segunda-feira, 9 de abril de 2012

O desserviço de gays que estão dentro e fora do armário

A homofobia internalizada é tão prejudicial quanto a que é exteriorizada. A primeira acaba sendo conivente com a segunda e a reforça.
Ditada por regras heteronormativas, a sociedade brasileira ao longo de sua história sempre rejeitou de forma hipócrita qualquer expressão que contrarie a moral e os bons costumes de cara ao público, cujos critérios foram impostos fundamentalmente por questões religiosas.
Muitas vezes, as mãos que usam para esconder o rosto são as mesmas que usam para atirarem pedras, afinal acaba sendo cada um por si e Deus para todos. Deus que é interpretado e utilizado de várias maneiras em um país que é heterogêneo em costumes, mas homogêneo no preconceito e na discriminação.
Permanecer no armário é um direito respeitável, cada um conhece o contexto de seu círculo social e nem sempre é fácil expressar-se de forma sincera. Por medo e covardia, muitos vivem presos, trancados com seus fantasmas. São tão individualistas que não sabem que essa atitude acaba corroborando para sua própria prisão. Mas cada um assume as consequências de suas escolhas. Não conhecem a paz de ser aceito ou rejeitado pelo que realmente é. Para os que assumimos nossa orientação sexual, podemos sofrer preconceitos e discriminações. Mas o mal que recebemos é tão verdadeiro quanto o bem. E para os que se ocultam, o bem que recebem é tão pernicioso quanto o mal do que tentam se defender, pois ele é falso.
Mas o que é realmente inadmissível e indigno de qualquer respeito, são os que permanecem escondidos e se aliam aos que atacam e machucam.


                                       Gays famosos e homofóbicos

Existem homossexuais famosos que estão fora do armário, mas que pela homofobia internalizada e ignorância, justificam-se constantemente, perpetuando o preconceito. Personagens como o falecido Clodovil, Aguinaldo Silva, Agnaldo Timóteo, entre outros, são verdadeiros desserviços para o coletivo LGBT e para a parcela da sociedade que sonha com a justiça de igualdades. Podemos compreender de onde vieram e os valores que lhes foram inculcados, mas ainda assim, são de certo modo, desprezíveis pela passividade e individualismo. Sentem-se aceitos pelo que são, e fingem que realmente é assim. Mas sabem que o classismo no Brasil é outra característica importante e que no fundo são "respeitados" pela fama ou pelo dinheiro que possuem. Essa falsa proteção é "privilégio" para poucos.


Assim como o que compra mercadoria roubada é tão ladrão quanto o que roubou. Os gays homofóbicos que estão fora do armário são cúmplices de todos os crimes cometidos contra os homossexuais. Principalmente os que tem visibilidade e nada fazem. Desprezam a militância e demonstram pavor contra qualquer tipo de bandeira, afinal, para que se preocuparem com os demais? Essa postura é tão repugnante quanto a dos trabalhadores que desejam um aumento de salário, mas que não participam da greve. E logo, beneficiam-se dos resultados positivos,  mas não sofrem com as represálias da luta.
O discurso de que a condição sexual não deve ser mencionada, pois isso não é importante, serve para um país onde ninguém morre por ser gay. Por isso sempre aplaudi quando alguém famoso sai do armário e demonstra preocupação com a realidade. Aos que denunciam, os que mostram para o resto da sociedade que a homossexualidade é algo tão natural quanto qualquer outra orientação sexual. Esse gesto contribui para que as outras pessoas entendam que ser homossexual não é algo menor.
Devemos erradicar a homofobia, extirpar o sofrimento de milhares de adolescentes que sofrem bullying e que muitos  acabam cometendo suicídio. Pois ser homossexual no Brasil ainda é ser uma aberração. E ninguém quer e gosta de ser rejeitado e apedrejado. Não podemos escolher nossa sexualidade, mas podemos escolher em lutar para que ela seja respeitada. Não pedimos aceitação e nem tolerância, apenas respeito. Como sempre digo, o verbo tolerar por si mesmo é sinônimo de desigualdade de patamares. E ninguém é superior ou inferior pela sexualidade.

Um comentário:

Brasil Sem Preconceito disse...

Na verdade eles são egoístas, isso sim. Por não passarem por situações ruins como a maioria dos glbt passam, lavam as mãos para essa população. É uma lástima.