segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Movida Madrileña


“...Segue a movida madrileña
Também te mata Barcelona
Napoli, Pino, Pi, Paus, Punks...”

Na canção “Vaca Profana”, Caetano Veloso menciona a movida madrileña em uma de suas estrofes e provavelmente, graças a essa espécie de mosaico cultural em forma de música, é que a maioria dos brasileiros ouviu falar sobre o assunto por primeira vez.
Na Espanha, os anos sessenta e setenta, foram vividos todos juntos, nos anos 80. Depois da opressão de uma ditadura de quase quarenta anos (1939-1975), Madri foi o cenário da grande revolução cultural que ocorreu naquela época e que logo se espalhou para o resto do país, em plena fase de transição à democracia. A movida madrileña foi o movimento punk espanhol.


No dia 09 de fevereiro de 1980, na Escola de Caminhos da Universidade Politécnica de Madri, vários cantores jovens se uniram para a realização de um show com a finalidade de homenagear a José Enrique Cano, o “Canito”, baterista do grupo “Tos” (que logo passou a se chamar “Los Secretos”), que perdera a vida ao ser atropelado por um carro no reveillón de 1979. Não eram conscientes de que o evento seria considerado oficialmente, tempos depois, como o início da “movida”.  Televisionado pela TV estatal espanhola, a apresentação dos grupos chocou aos que estavam acostumados a um padrão estético mais conservador e os agrediram com a falta de harmonia e qualidade nas canções apresentadas por músicos inexperientes.
A movida teria acontecido de qualquer maneira, independente do show daquele dia. Através da música, cinema, televisão, poesia, fotografia e outras formas de expressões, vários artistas manifestaram livremente suas ideias e inquietações. Foram seguidos por uma sociedade que carecia de novidade e criatividade.
O ambiente daquela época era de que tudo era permitido. A cultura dos bares e discotecas, evidenciou a bohemia e o que poderia ser considerado extravagante. 

  

 Na televisão, o programa “La Edad de Oro”, dirigido e apresentado por Paloma Chamorro, foi a maior vitrine da movida madrileña e a jornalista, consequentemente, sua maior musa. Nele, os entrevistados falavam sobre sua arte sem nenhuma censura. Também declaravam o uso habitual de várias drogas como estimulantes para a criação. Tudo era possível e divertido. 


Pedro Almodóvar  foi a maior estrela que surgiu naquela época e que alcançou projeção internacional e que se mantém até hoje no estrelato.  Atuava no teatro e era cantor de rock-punk, onde se apresentava travestido ao lado de Fábio McNamara. Como diretor, cultuou o marginal em seus filmes de forma ácida e crítica. Em sua filmografia, não há nenhum drama sem comédia e nenhuma comédia sem drama. Soube colocar os holofotes para a realidade do subterrâneo e que para a maioria dos conservadores e otimistas, era apenas o surrealismo de um jovem desvairado. 
A Espanha precisava mudar sua imagem de careta e reprimida. Necessitva se livrar dos resquícios da mão dura de Franco. Por isso, toda a transgressão foi respaldada principalmente pela classe política de esquerda. Queriam mostrar um país democrático, novo e principalmente, moderno.


 É difícil sintetizar a importância da movida. Aqueles anos foram  complexos e deixaram de herança uma multipluralidade de tendência e comportamento. É uma delícia esmiuçar o universo daquela época. No youtube, podemos ver apresentações de vários grupos musicais, entrevistas, inclusive, os programas de Paloma Chamorro. Mergulhar no passado recente da Espanha nos ajuda a entender melhor o seu presente. E constatando a eficiência da teoria de que no mundo tudo é cíclico, compreendemos a falta atual de grandes novidades por aqui.


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