domingo, 26 de junho de 2011

Santos, sempre Santos!


Não há palavras para expressar a alegria de ver o Santos conquistando a Libertadores. Já somos tricampeões!
Assisti o jogo ao vivo, em plena madrugada, cuidando que qualquer manifestação de emoção fosse silenciosa para não incomodar os vizinhos. Mas quando terminou, acabei soltando um grito e pulando de felicidade. Os Meninos da Vila conseguiram o título na raça e tem mostrado um futebol bonito. Neymar não é uma estrela apenas no Brasil, já é um dos jogadores mais comentados pela imprensa internacional. 
Parabéns ao Santos e a todos os santistas espalhados pelo mundo!

domingo, 12 de junho de 2011

Entre Valentim e Antonio


Estudos científicos revelam que o escaneamento dos cérebros de pessoas apaixonadas mostra uma grande semelhança com indivíduos portadores de uma doença mental. Amar é pura loucura.
É óbvio que existem diversos conceitos sobre o amor, mas esse que une duas pessoas desconhecidas de forma imediata, que muitas vezes chamamos de paixão, é pura insanidade. Quantas coisas não fazemos quando estamos apaixonados, fugimos do próprio sentido da razão e perdemos o juízo de forma literal.  Mas acredito que não há nada mais prazeiroso nessa vida que estar louco de desejo e ternura.
Independente dos conceitos que foram criados e estabelecidos para o amor romântico, pois esse assunto é bastante complexo e rende infinitos debates, é certo que hoje, em um país com quase duzentos milhões de habitantes, não se fala ou se pensa em outra coisa. Afinal, hoje é dia dos namorados no Brasil.
Nos países anglo-saxões a data é comemorada no dia 14 de fevereiro, dia da morte de São Valentim, o bispo que morreu por continuar celebrando casamentos, contrariando a proibição do Imperador Cláudio II (Roma antiga), que em época de guerra, acreditava que os solteiros eram melhores soldados. Desprezando o pragmatismo e enaltecendo o romanticismo, o religioso foi condenado à morte e tornou-se o santo do amor e da amizade. Essa data festiva foi estendida a outros países da América do Sul e também da Europa latina, no século passado.
No Brasil, o dia dos apaixonados também está pautado de alguma forma por um santo católico. A ideia trazida de Portugal (que atualmente se rendeu a Valentim) que comemorava essa data por ser um dia anterior ao de Santo Antonio (13 de junho), o santo casamenteiro , que era português.
O certo é que hoje no Brasil, milhões de casais trocam presentes, reiteram juras de amor e lotam motéis. E também, milhões de solteiros inconformados vêem como a solidão dos corações acaba especialmente potencializada. Não tenho dúvida de que até os agnósticos de plantão, motivados pelas circunstâncias comerciais estabelecidas, não descartam a hipótese de virar alguma imagem de Santo Antônio de cabeça para baixo, para colocar a esperança para cima.
É muito bom estar com alguém e viver uma história de amor. Mas não devemos condicionar exclusivamente a nossa felicidade a este fato. Sou e somos milhões de solteiros que desconhecemos a tristeza de estarmos sozinhos. 


terça-feira, 31 de maio de 2011

Nada como sentir na pele

"Apesar de tudo, ainda acredito na espécie humana"
(Anne Frank, menina judia assassinada pelos nazistas)

Hail Mott!!!

Venho neste espaço denunciar algo muito triste e revoltante que ocorreu a minha pessoa e gostaria de fazer alguns apontamentos.
Resolvi escrever este aritgo por vários motivos, mas o principal é o de tirar dúvidas a respeito de uma agressão homo/transfóbica por mim sofrida no ultimo sábado, quando retornava tranquilamente de uma festa de aniversário. E também por acreditar na enorme importância das pessoas que sofrem este tipo de violência tornarem-se portadoras do proprio grito de justiça. Na midia em geral, geralmente este tipo de assunto é apresnetado por terceiros, por maus jornalistas que têm o hábito de distorcer a realidade e pior, coisificar os individuos, como se fossemos coisas, meros pedaços de carne, usados como materia para noticia. Espero não ser injusta com ninguém.

Peço desculpas por ter demorado mais de uma semana para publicar este relato, mas se demorei tanto foi pelo fato de que sofri uma terrivel pressão psicológica, a qual foi capaz de fazer fugira as palavras. E por que trata-se de um tema que não se pode apresentar com exatidão, mesmo usando todas a palavras do mundo.

Voltava apressadamente por volta das 4 horas da manhã junto a alguns companheiros, de uma festa de aniversário que havia ocorrido no Largo da Ordem, centro histórico curitibano e espaço de socialização de jovens que não têm acesso as boates e clubes de classe média, Corríamos pois um colega nosso se apresentava embriagado –nada demais, acredito- e nos dirigíamos a algum hospital ou procurávamos um modo de minimamente colocá-lo num ônibus e despachá-lo para casa em segurança. Foi nesse momento que, ao ver ao longe a aproximação de algumas pessoas, me adiantei para pedir socorro. Não sabia mas quem vinha pela rua escura (estávamos na altura do Cemitério Municipal) era meu algoz. Tinha o sangue nos olhos, as faces retorcidas pelo ódio, o ímpeto de descontar sua ira contra um alvo mais fraco.

A cena que seguiu sinceramente gostaria de esquecer. Aos gritos de “vou bater num viado, começando por esse aqui”, veio na minha direção. Tentei fugir, mas ao virar as costas senti o peso do primeiro chute, covarde, nas costas, e meu corpo caindo na calçada. Neste momento, só pensei em seguir a Cartilha : defender a cabeça e os pontos vitais, enquanto gritava pedindo por socorro e clamando misericórdia por parte dos agressores (foram 3 pelo que me contaram, na ânsia por me defender só conseguia enxergar um deles), pedia perdão desesperadamente pelo crime que havia cometido- o crime de ser “viado”, ao mesmo tempo em que jurava minha improvável inocência- por ser “trans” trajava vestimentas do “sexo oposto”, “escandalosas”, como diria a minha mãe (afinal a culpa é sempre da vítima).

2 dias depois, ainda sem rumo , transtornada pelo choque da violência e sem saber para onde me dirigir e o que fazer, fui a faculdade e lá encontrei com alguns amigos, que, indignados pela situação resolveram me acompanhar na via crucis burocrática. Passamos, em primeiro lugar, na PRAE (Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis) da UFPR, que não tomou rigorosamente providência nenhuma. Apesar de não estar devidamente matriculada neste semestre, o que foi pedido a instituição UFPR, não era nada além de um atendimento humanitário a alguém que precisava de um apoio simples. Como meus amigos também estão inscritos no que se convencionou como segmento LGBT, temíamos discriminação ou mesmo truculência por parte da policia quando fossemos a delegacia (o que de fato aconteceu). Mas até mesmo a isto a instituição se negou, alegando problemas burocráticos.

Não teríamos conseguido sequer registrar o Boletim de Ocorrência se não fosse a presença do professor Pedro Bodê, cujo nome faço questão de incluir no meu relato, juntamente com meus sinceros aplausos e minhas Moçoes de Louvor. O atendente do 1º teve a falta de humanidade de se negar a nos atender e registrar o caso, alegando que não poderia fazê-lo a menos que reconhecesse o agressor. Ora, não é função da Polícia investigar? Estamos pagando pesados impostos, para que as instituições façam “corpo-mole” ajudando na fuga desse tipo de criminoso, que, alias, faz o serviço sujo do sistema, tirando os ‘viados’ de circulação? Fico pensando nos inúmeros casos de travestis que alem de terem que se contentar com a imposição da prostituição como ganha-pão, ainda ficam a mercê de atentados deste tipo, surras com extintor, pauladas de desconhecidos, tiros, assassinados. E sempre a culpa é delas que “aprontam”.

Em meio a vociferações, ameaças simbólicas e abusos de poder, só fmos atendidos na delegacia quando entrou o professor, junto com um advogado ligado a Comissão de Direitos Humanos. Ai só faltou o delegado nos oferecer cafezinho...

Ora, sabemos que estes casos costumam ficar impunes no nosso pais. Mas na minha concepção, e posso estar muito enganada. Ao me permitir fazer a queixa os policiais não estaria me prestando nenhum favor, pelo contrário, além de serem pagos com dinheiro do contribuinte (mal pagos, muitas vezes, façamos a justa ressalva) ainda teriam com meu relato a oportunidade de prender um provável futuro assassino ou genocida homofóbico, caso houvesse vontade política. Foi pensando nisso, que numa espécie de “dever cívico” de denunciar um maníaco perigoso (vai que, em vez de um ‘viado’ ele pegue o filho de um Policial Civil, por engano), que me dirigi a delegacia.

No outro dia fui com meus amigos e o advogado fazer o exame de Corpo de Delito. Mais uma vez tive que deslocar pessoas, pois tinha medo de ser discriminada, ou de ouvir comentários “carinhosos” como aquele que teve de ouvir um colega nosso, agredido a anos atrás, da boca de uma enfermeira- “agora, vê se aprende”; ou talvez até algo pior, já que no recinto do consultório o médico teria acesso ao meu corpo. Mas tudo transcorreu como de praxe. Minha suposta identidade de gênero em momento algum fora respeitada. “’nome social’, o que é isso, mesmo?” . Mediram com uma régua os meus ferimentos, com o mesmo grau de humanidade e com o mesma objetividade científica que se mede uma rua ou um pedaço de carne. Mas, como disse, fora apenas um exame de rotina.

Só não entendo por que ate agora nem o SUS nem o IML conseguiram me garantir acesso a um raio-X do nariz, que creio ter sido fraturado. E agora permitam voltar a minha subjetividade. A uma semana que não consigo me olhar no espelho. Meu nariz torto é um símbolo, uma marca de que a “Milicia Heteronormativa” conseguiu fazer seu trabalho infame no meu corpo. Meu rosto é um aviso muito claro aos meus companheiros: “Cuidado, você pode ser o próximo”. Se o objetivo desse verdadeiro grupo de torturadores era me atingir psicologicamente e moralmente, acertaram em cheio. Tenho medo de sair a noite e até durante o dia. Deixei de freqüentar alguns eventos na faculdade, com medo de ser novamente agredida, ou me expor a alguma chacota por parte de algum colega homofóbico, politicamente correto o bastante para não destilar seu preconceito na minha frente. Cada hora do relógio, depois que o sol se põe é como um lembrete de que outro agressor, ou o mesmo, pode estar se aproximando. Ainda hoje pela manhã, quando voltava do supermercado, me vi correndo em direção a um grupo de estudantes, pois tive a sensação de estar sendo seguida por um individuo suspeito.

Vejo-me ainda mais revoltada com a situação, pois a menos de uma semana do caso de violência a que fui submetida, o Kit contra a Homofobia (que prefiro chamar de Kit anti-hipocrisia) fora cancelado pela President@ Dilma. Tenho longas criticas a fazer ao material, mas essa negativa me negaria, como profissional da educação de explicar aos meus alunos assustados o porquê da violência e a crise que sua professora estaria sofrendo. É terrível e assustador vivermos num pais no qual bandidos armados e comcerteza da impunidade, se vêm no direito de espancar outros cidadãos por motivo absolutamente torpe e não podemos sequer falar sobre a assunto por ser um “tabu” e as “criancinhas”, estudantes secundaristas criadas assistindo BBB (algumas delas serão futuramente espancadas sem saber o motivo) ,não podem discutir ‘homofobia’ em sala-de-aula.

Apoio e vejo a importância vital de se criar estatísticas cada vez mais apuradas sobre o campeão mundial de homofobia (Brasil) , mas preciso desabafar. Uma coisa é ler números frios num pedaço de papel. Outra totalmente diferente é sentir o coturno pesado do agressor, no exato momento em que desfigura violentamente o nosso rosto. Uma coisa é ter acesso a trabalhos acadêmicos que tentam explicar a motivação homofóbica de tais crimes. Outra é sentir a dor das correntadas nos braços enquanto nos agachamos junto a parede, em posição fetal, implorando por socorro e torcendo e rezando para que os agressores não puxem facas ou revólveres para “terminar ali o serviço” .

Felizmente para mim, meus companheiros acorreram em meu auxilio, me levaram a um posto de gasolina, onde recebi os primeiro cuidados, onde meu rosto foi limpo, onde tentava desesperadamente limpar meus cabelos claros tingidos de vermelho pelo sangue que jorrava de um ferimento profundo na cabeça- a população LGBT é a única que não sabe como será recebida em casa depois de um avento deste tipo e não queria deixar minha mãe preocupada. Muitos não tem essa sorte. Muitos não voltam para casa.

Espero que meu relato sirva de alerta as autoridades (mais um) você sabe onde está seu/sua filho(a)? Estaria ela ou ele procurando alguma alvo frágil para descontar sua raiva, ou sendo espancado covarde e inocentemente, simplesmente por ter um “comportamento” que alguns acham que tem o direito “divino” de punir ? E espero que as autoridades façam alguma coisa para impedir que casos destes continuem acontecendo. Seja como for aprendi da pior (ou melhor) e mais dolorosa maneira a minha grande lição sobre o que é homo/lesbo/transfobia: literalmente na ‘base do porrada’. Espero que o caro leitor ou seus próximos não precise passar pelo mesmo sofrimento.








De acordo com o último relatório do Projeto de Monitoramento de Assassinatos de Pessoas Trans, que controla o número destes tipos de crimes em 42 países, de janeiro de 2008 até dezembro de 2010, no Brasil foram cometidos 227 homicídios dos 539 registrados.
Não queremos que o governo faça propaganda de "opção sexual", queremos que apenas garanta os direitos básicos de cidadãos que são marginalizados por uma sociedade hipócrita e cruel.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Não acredito no Deus deles....

No Brasil, o que prevalece é o interesse pessoal na maioria dos políticos. O brasileiro não tem uma ideologia política e é incapaz de se identificar com seus representantes. Votam aleatoriamente sem mesmo conhecer as propostas dos candidatos. Temos eleições a cada dois anos, e mesmo antes de chegar a urna outra vez, o brasileiro não recorda do seu último sufrágio.
Sou petista de coração, pois a ideologia e as políticas adotadas por governantes deste partido  são as que me sinto mais identificado. Fiz de forma voluntária, campanha para a presidenta Dilma Rousseff, pois ela era a única candidata que poderia substituir o ex-presidente Lula. Até agora, acompanhando a forma dela de governar, estava plenamente satisfeito. Mas ontem, acabei tendo uma decepção.
Posso entender as articulações políticas e também o cenário de outra crise inventada pela imprensa. Mas usar como moeda de troca, um kit educacional que promove o respeito à diversidade, no país onde mais se cometem crimes contra as pessoas homossexuais, é inconcebível. Que a presidenta se torne refém da bancada de fundamentalistas do Congresso é preocupante para todos que desejam que o nosso país avance nos Direitos Humanos.
O kit anti-homofobia, desenvolvido pelo MEC e avalado pela UNESCO propunha reduzir nas escolas o bullying contra os homossexuais, evitando assim, que pessoas, cuja orientação sexual seja diferente do que é estabelecido como normal ( o que é ser normal?) não tenham que abandonar os estudos.
É na escola onde aprendemos o senso comum de civismo. Uma boa educação garante um cidadão civilizado e, logo, uma sociedade melhor.
Suspender o kit anti-homofobia significa um grande retrocesso. Quem ganha são os que se dizem cristãos; “defensores da família, moral e bons costumes” e que não se envergonham sequer de expressar de forma explícita suas atitudes e argumentos homofóbicos.
É inadmissível que tenhamos que ser pautados pelos dogmas religiosos dessa gente fanática e principalmente CANALHA. Porque os valores cristãos são opostos do que eles fazem cotidianamente.
Se conseguiram suspender o kit, fica mais difícil de crer que a PL 122 seja aprovada.
Confio nos valores humanos da presidenta Dilma Rousseff, sei que apesar do ambiente gris que ronda Brasília nessas últimas semanas, ela fará uma auto-crítica e irá procurar alguma forma de respeitar o voto de todos aqueles que viram nela, a esperança de viver num país menos preconceituoso.



segunda-feira, 16 de maio de 2011

Santos, bicampeão paulista 2011

Não há palavras para descrever a alegria e a emoção de ver o Santos conquistar mais um campeonato paulista. Não tem explicação, essas coisas apenas se sentem.
Parabéns aos meninos da Vila Belmiro que jogaram com superioridade. Destacar apenas a genialidade de Neymar seria uma injustiça com o resto da equipe. Todos brilharam individualmente e em grupo, fizeram um bom trabalho. Muricy tem exercido o seu papel com muita sabedoria, desde que entrou no Santos, tem feito uma diferença bastante visível.
Agora é só esperar o jogo de quarta-feira para continuar sonhando com a Libertadores!


Hino do Santos

Sou alvinegro da Vila Belmiro
O Santos vive no meu coração
É o motivo de todo o meu riso
De minhas lágrimas e emoção
Sua bandeira no mastro é a história
De um passado e um presente só de glórias
Nascer, viver e no Santos morrer
É um orgulho que nem todos podem ter
No Santos pratica-se o esporte
Com dignidade e com fervor
Seja qual for a sua sorte
De vencido ou vencedor
Com técnica e disciplina
Dando o sangue com amor
Pela bandeira que ensina
Lutar com fé e com ardor
Composição : Carlos Henrique Roma Em Julho De 1957


sábado, 7 de maio de 2011

STF reconhece união gay no Brasil

Dia 05 de maio de 2011, dia histórico não somente para a comunidade LGBT, mas também para toda a sociedade brasileira. O Supremo Tribunal Federal aprovou por unanimidade a união civil de homossexuais.
O STF exerceu com exatidão o papel real que lhe corresponde: defender a justiça. E assim foi. Estávamos cansados da omissão do legislativo, afinal, são poucos os políticos que se atrevem a defender uma causa considerada tão polêmica, visando sempre seus próprios interesses eleitorais. Também estávamos esgotados de ver nossos direitos negados, pautados por fundamentos religiosos.
Ontem, acompanhando a votação ao vivo, acabei me emocionando, como disse minha amiga Lídia, com a aula de Direito que foi dada ali, na Suprema Corte. Os direitos humanos foram defendidos de forma clara. Das inúmeras frases dos discursos dos ministros, a que adorei ter ouvido foi dita pelo Ministro Celso Mello, onde expressava que a teologia moral é respeitável, mas não pode interferir nas decisões adotadas por juízes e autoridades.
A equiparação de direitos dos casais heterossexuais aos homossexuais não afeta negativamente a ninguém. Qualquer crítica é meramente construída em questões morais concebidas por fatores religiosos. Em um Estado de direito laico e  democrático, nenhuma bíblia deve pautar a justiça.
Estou feliz com a decisão do STF. Contente em ver que meu país está evoluindo. Para que uma nação possa ser respeitada, ela deve, antes de qualquer coisa, respeitar a si mesma.
Parabenizo e agradeço a todos os militantes LGBTs, pois sem eles, permaneceríamos marginalizados e não teríamos nossos direitos reconhecidos. Ainda há um longo caminho pela frente, essa é só uma das inúmeras vitórias que precisamos para vivermos de uma forma mais justa e digna.

domingo, 1 de maio de 2011

Todo sentimento...

Às vezes existem sintonias entre duas pessoas que até pouco tempo eram desconhecidas, que acabam impressionando. Não há explicação para tantas afinidades e empatia. Como dizia Nelson Rodrigues, "Deus está nas coincidências". Talvez realmente estamos todos destinados a entrarmos e sairmos das vidas de pessoas que aparecem ao longo do nosso caminho e provavelmente há uma estrutura realmente estabelecida para que isso aconteça. Não sabemos.

"Todo sentimento
Precisa de um passado pra existir
O amor não:
Ele cria como por um encanto
Um passado que nos cerca,
Ele nos dá a consciência de havermos vivido anos a fio
Com alguém que a pouco era quase um estranho,
Ele supre a falta de lembranças por uma espécie de mágica..."
 
(Benjamin Constant)


sábado, 16 de abril de 2011

Maria Gadú: outra joia da nossa MPB

Há exatamente um ano, estava no Brasil, apresentando o livro “O Teatro dos Anjos”. Foi durante a minha estância na minha pátria querida e idolatrada, que escutei finalmente o primeiro disco de Maria Gadú, através do meu amigo Eluane.
Mesmo morando em outro país, sempre estou antenado à atualidade brasileira, e como bom amante da música que sou, já sabia sua história e havia ouvido algumas canções através do You Tube.
Gadú surpreende. Seu aspecto físico revela certa rebeldia.  Quando a vi pela primeira vez, pensei que seu estilo fosse agressivo. Quando a escutei, veio a surpresa. A doçura de sua voz nos convida a momentos mais singelos. É calmo ouví-la. A beleza de sua voz é embriagadora.
Mas a sensibilidade dessa moça se equipara à grandeza de sua voz. Quando descobri que o disco era totalmente autoral, foi inevitável não admirá-la de forma imediata. Principalmente quando ouvi “Dona Cila”, composta pela cantora quando ainda era uma adolescente. Apesar da pouca idade, a letra dessa música demonstra a maturidade emocional que ela possui. Lidar com a morte das pessoas que amamos não é fácil. Ela soube transformar sua dor em pura poesia, característica intrínseca dos grandes artistas.
Essa canção feita para a avó, um mês antes de seu falecimento, tocou fundo a minha alma. Uma linda homenagem para a mulher que a inspirou a cantar e, que também era cantora, lírica, mas que infelizmente perdeu a voz pela ingestão de um produto químico. Ficou a frustração de não realizar alguns sonhos, entre eles, cantar em um teatro municipal e desfilar no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, como baiana. Desejos que são cumpridos no clipe da música, onde a atriz Neusa Borges interpreta a protagonista da história: Dona Cila.
A impossibilidade da realização dos sonhos, que sempre são próprios, acaba causando uma grande insatisfação em todos nós. Conviver com essa frustração é um grande exercício para nossa própria evolução e equilíbrio. Nem sempre conseguimos o que queremos. Mas a vida em si é muito mais ampla do que qualquer desejo. Ganhamos e perdemos constantemente. Acredito que dona Cila deve estar bem orgulhosa de ver que sua neta, Maria Gadú, entrou no rol dos grandes artistas da nossa música popular brasileira. Cada indíviduo é único e exclusivo, mas o amor é o elo que faz com que sejamos a extensão das pessoas que amamos.
Dedico essa canção à minha saudosa avó Madalena... “Oh meu pai do céu/limpe tudo aí/vai chegar a rainha/precisando dormir...”



sexta-feira, 8 de abril de 2011

O professor de Aristóteles


Outra vez. Quando já não recordava o professor de Aristóteles, ele veio como uma flecha e fez o cupido sorrir. O órgão que impulsa o sangue acelerou e desde então não descansa em paz. É festa, é confusão, um tumulto incoercível de sensações.
A razão faleceu, mas a moral ainda resiste. O egoísmo se confunde com o altruísmo. Pura bagunça. Onde irão parar esses pensamentos ansiosos por um único destino? Parece que não existem outras portas e o uniteralismo desse desejo indica não haver fim. Um oceano doce de mares salgados.
O que não daria por poder tocá-lo e vê-lo sorrir. A felicidade é a moeda de troca nesses devaneios ousados, alheios à realidade. A puerilidade é essência pura nesse retrocesso aos anos adolescentes.
Como alguém pode estremecer e liberar zilhões de vibrações com um simples olhar? Essa força respalda e é a própria expressão em si mesma da existência de Deus.
Nessa espécie de montanha mágica que é o seu corpo, a luz que o seu riso produz ilumina até as trevas da noite em suas matas. Tê-lo nos braços com o dente da paz é a ilusão que exerce o papel de combustível para mover as pernas que caminham contrárias à tirania do tempo. O despotismo do relógio.
Não houve atração igual. Não há necessidade de comparar. Algo dessa proporção não conhece limites e não entende de escalas matemáticas. É multiplicar infinitamente de forma simultânea a dividir.
A compreensão da situação de Osment (by Spierlberg) vem de forma exata, agora. Talvez encontre o que busque, submergendo ao reino da vida. Mas se encontrar, a coroa será recíproca nessa angústia de felicidade?
A minha selva já tem um rei.

terça-feira, 5 de abril de 2011

"The Rose" interpretada por Aoi Teshima

Alguns dizem que o amor, é um rio,
que afoga a relva macia.
Alguns dizem que o amor, é uma navalha,
que deixa a sua alma sangrando.
Alguns dizem que o amor, é uma fome,
uma necessidade dolorosa que nunca acaba.
Eu digo que o amor, é uma flor,
Em você ele é somente uma semente.

É o coração, receoso de quebrar,
que nunca, aprende a dançar.
É o sonho, receoso de acordar,
que nunca, aproveita a chance.
É o único, que não pode ser pego,
por quem não pode, parecer entregar.
E a alma, receosa de morrer,
que nunca, aprende a viver.

Quando a noite houver, sido solitária,
e a estrada, longa.
E você pensar que o amor é somente,
para o afortunado e para o forte.
Apenas lembre-se que no inverno,
distante sob a neve amarga,
encontram-se as sementes que amam o sol.
E que na primavera se tornam rosas.





domingo, 3 de abril de 2011

Jair Bolsonaro, perfil de um ditador


Espero que um dia a homofobia cause tanta indignação como o racismo no Brasil. E seria ingenuidade ou até mesmo ignorância acreditar que as diferenças étnicas vivem em plena harmonia na sociedade mais miscigenada do planeta. Discriminar alguém pela sua cor de pele só passou a ser politicamente incorreto quando isso tornou-se um crime. Isso não significa que esse comportamento deixou de existir. Enquanto a desigualdade de oportunidades existir entre brancos e negros, não podemos considerar esse problema erradicado. Ainda há um longo caminho pela frente. E que por mais longo que seja, é bem menor que o percurso que as pessoas homossexuais tem de caminhar para conseguir o real respeito à sua cidadania. 

Há muito tempo, Jair Bolsonaro me produz muita indignação. Mas, parafraseando o grande Marthin Luther King, “o que me preocupa não é o barulho dos ruins e sim o silêncio dos bons”, vejo com consternação a normalidade que é colocar no patamar inferior, o coletivo LGBT. Qualquer pessoa pode humilhar e diminuir os gays publicamente sem nenhuma punição. O deputado do Partido Progressista (não consigo entender realmente o conceito que essa gente tem de progresso), ao longo de sua vida militar e política, sempre teceu ofensas e comentários pejorativos às pessoas que não se encaixam ao seu padrão arcaico e encerrado. Machista, homofóbico, racista, enfim, uma pessoa que por muitas virtudes que poderia ter, não merece nenhum tipo de respeito. Mas infelizmente existe um número expressivo de pessoas que se identificam com ele. Foi eleito vereador na cidade do Rio de Janeiro em 1988, dois anos depois deputado federal e continua exercendo esse cargo há mais de 20 anos.
A primeira vez que ouvi falar desse sujeito foi em 2003, quando ele empurrou e chamou de vagabunda a atual Ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário (PT), na época, deputada federal eleita pelo Estado do Rio Grande do Sul, no Congresso Nacional, diante das câmeras. O incidente repercutiu no país inteiro, mas não houve nenhuma penalização por esse comportamento. 


Mulheres, índios, gays, negros e todas as pessoas com ideologia esquerdista  sempre foram alvos do homem que defende abertamente a Ditadura Militar no Brasil. Mas parece que a ideia de que os homossexuais possam conquistar os seus direitos correspondentes como todos cidadãos, tira o sono do deputado que parece viver uma eterna prisão de ventre.
Poderia especular sobre a perseguição dele aos homossexuais, baseado nas teorias de Freud, mas nunca quis me aprofundar sobre isso. Os complexos que ele esconde dentro de sua mente retrógrada não me interessam. O que importa mesmo é que a sociedade brasileira que pretende avançar nos direitos humanos faça a sua parte. É inadmissível ter uma pessoa que está para servir à população, ataque as minorias, ignorando completamente que uma nação é construída por uma diversidade de pessoas e que todas elas, independente da religião, gênero, sexualidade, classe social e idade, merecem igualmente serem respeitadas.
No ano passado, numa tentativa desonesta, o homem que carece de valores básicos humanos, conseguiu levar à imprensa a ideia derturpada do projeto do kit educacional anti-homofobia e pró-diversidade, taxando-o de forma pejorativa como “kit gay”.  A ignorância e o deputado são sinônimos. Está mais do que demonstrado que não se pode fazer apologia à nenhuma condição sexual, porque se assim fosse, não existiria a comunidade GLBT. É impossível fomentar orientação sexual, cada um tem a sua. Não é uma questão de educação, como acredita esse deplorável ser.  O deputado acéfalo defendeu a violência como forma corretiva. Aconselhou a todos os pais de homossexuais a agredirem fisicamente os filhos para os “endireitarem”.  Mais triste que ver esse homem vomitando palavras incoerentes foi ler nas notícias, semanas depois, que um pai matara seu próprio filho, no interior paulista, pelo rapaz assumir sua condição sexual.  E é mais lamentável ver a passividade das pessoas que são contrárias à suas ideias.

Foi necessário ele ter expressado sua opinião racista à uma pessoa famosa para que ganhasse o repúdio de muita gente. Infelizmente a homofobia no Brasil não é considerada um crime como é o preconceito racial. Se assim fosse, esse homem estaria preso, merecidamente. A sexualidade humana não pode ser fomentada, é algo inerente a cada indíviduo. É própria. Agora o respeito sim, pode e deve ser inserido no código de ética de todo mundo.
Respeito opiniões que divergem das minhas desde quando as mesmas não contribuam para o preconceito. A discriminação não é um mero fato de opinar, é uma violência. 
Eu assinei uma petição pública para que o dito cujo seja penalizado pelo seu comportamento.  Qualquer pessoa que se sinta ofendida ou solidária aos ofendidos, deixo o endereço para que possam firmar e divulgar. 

http://www.peticaopublica.com/?pi=P2011N8333

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O fim da luta

No dia 29 de março, recebi inúmeras mensagens informando sobre a morte de José Alencar. Estava no trabalho e não tinha como ver a notícia. Fiquei triste, pois me lembrei de uma entrevista que ele concedeu, onde dizia que sua maior alegria seria chegar em casa e dizer à sua esposa que estava curado.
O homem de origem humilde que se transformou em um dos maiores empresários do nosso país, foi vice do  presidente mais popular da nossa história, o Lula. E, apesar de algumas divergências ideológicas entre eles, exerceu seu papel como um verdadeiro político. O afeto que havia entre os dois era visível e a admiração recíproca também.
Lembro bem da última campanha presidencial, mesmo doente, Alencar foi um dos maiores militantes de Dilma. Não deixou-se abater pelo câncer e tampouco encerrou-se ao seu drama, demonstrou que, mesmo em um momento extremamente delicado de sua vida, a preocupação pelo destino do Brasil era uma das suas maiores causas.
Não nego minha insatisfação quando ele, na condição de presidente em exercício, não assinara o decreto que instituiria o Dia Nacional de Combate à Homofobia, alegando questões de princípios partidários. Mas na condição de ser humano, não escondo a solidariedade que sentia por ele. O câncer é uma doença cruel que mata milhões de pessoas a cada ano no mundo inteiro. Vê-lo lutando de forma incansável me despertava naturalmente a torcida para que ele ficasse bem.
Foi uma das peças fundamentais para a eleição e reeleição de Lula. Contribuiu muito para a vitória de Dilma. Foi o homem que soube estar. E com certeza, um dos políticos que entrará para a nossa história com uma avaliação bastante positiva.



domingo, 27 de março de 2011

Esconderijo



Nesse quarto escuro
Existe um menino assustado
Ele é sozinho
E teme que o mundo encontre o seu cantinho

Entrega ele pra cuidar
Eu sei guardar segredo
Eu sei amar

Não conto pra ninguém
Que esse menino é alguém
De barba e gravata e que esse quarto escuro é sua alma

Esconderijo (Sandy Leah)

Não encerro os artistas em conceitos e tampouco considero menores os que não me despertam simpatia. Sandy tem evoluido na sua carreira e valorizo a sensibilidade dela quando escreve. Quando ouvi "Esconderijo", adorei. A letra expressa a realidade do medo que sente muita gente que reconhecemos como pedante. Acredito que todo pernóstico esconde uma criaturinha assustada e complexada dentro de si.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Os olhos violetas se fecham para sempre

Não posso deixar de registrar minha profunda tristeza pelo falecimento de uma das pessoas mais incríveis dos úlitmos tempos. Além da relevância da carreira artística, Elizabeth Taylor demonstrou ao longo de sua vida, qualidades humanas que carece a maioria dos mortais. Lutou de forma veemente contra a propagação da AIDS e foi uma das maiores ativistas da causa LGBT. Se dez por cento das grandes estrelas tivessem a mesma sensibilidade dessa grande mulher, o mundo seria um lugar mais agradável para se viver.
O cinema perde uma grande estrela. A humanidade perde um pouco da sua própria essência. Goodbye Miss Taylor!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Brasil: epicentro de assassinatos de pessoas LGBT?


Eu acabei de assinar uma petição pedindo o apoio à Presidente Dilma Roussef para a aprovação da lei Anti-Homofobia que está sendo discutida no Congresso-PL 122. Você sabia que o Brasil registra hoje os maiores indices de violência contra homossexuais  e é o numero 1 no mundo em crimes contra travestis e transexuais?

No início deste mês, uma jovem travesti chamada Priscila foi morta à tiros em Belo Horizonte, o mais recente caso de uma onda de crimes perpetuados contra transexuais no país. A violência vem aumentando, mas nós podemos lutar contra.

Você se unirá a nós pedindo à Presidente Dilma Roussef, que tem afirmado que direitos humanos são a prioridade no seu governo, para apoiar a lei Anti-Homofobia? Se a Presidente Rouseff almeja que o Brasil seja visto como o lider dos direitos humanos no cenário mundial, ela precisa trabalhar duro para assegurar que TODOS os brasileiros tenham proteção igual perante a lei. Assista a esse video emocionante sobre a Priscila e assine a petição:

www.allout.org/pt/petition/priscila


terça-feira, 15 de março de 2011

Eu e o Mar

Como o rumor do mar dentro de um búzio
O divino sussurra no universo
Algo emerge: primordial projecto.


 Há muito que deixei aquela praia
De grandes areais e grandes vagas
Mas sou eu ainda quem na brisa respira
E é por mim que espera cintilando a maré vasa
Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar
De todos os cantos do mundo
Amo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
Mar sonoro, mar sem fundo mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós.
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim. 


                                                  (Sophia de Mello Breyner e Andresen)

Olhando o mar, sonho sem ter de quê.
Nada no mar, salvo o ser mar, se vê.
Mas de se nada ver quanto a alma sonha!
De que me servem a verdade e a fé?

Ver claro! Quantos, que fatais erramos,
Em ruas ou em estradas ou sob ramos,
Temos esta certeza e sempre e em tudo
Sonhamos e sonhamos e sonhamos.

As árvores longínquas da floresta
Parecem, por longínquas, 'star em festa.
Quanto acontece porque se não vê!
Mas do que há pouco ou não há o mesmo resta.


Se tive amores? Já não sei se os tive.
Quem ontem fui já hoje em mim não vive.
Bebe, que tudo é líquido e embriaga,
E a vida morre enquanto o ser revive.

Colhes rosas? Que colhes, se hão-de ser
Motivos coloridos de morrer?
Mas colhe rosas. Porque não colhê-las
Se te agrada e tudo é deixar de o haver?

     (Fernando Pessoa)

 

                                                                        O Homem e o Mar

                                                                        Homem livre, o oceano é um espelho fulgente
                                                                        Que tu sempre hás-de amar. No seu dorso agitado,
                                                                        Como em puro cristal, contemplas, retratado,
                                                                        Teu íntimo sentir, teu coração ardente.
  


Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
  As queixas que ele diz em mística linguagem. 

                                                                 Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;
                                                                 Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,
                                                                 Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;
                                                                 Os segredos guardais, avaros, receosos! 

                                                                         E há séculos mil, séc'ulos inumeráveis,
                                                                       Que os dois vos combateis n'uma luta selvagem,
                                                                        De tal modo gostais n'uma luta selvagem,
                                                                        Eternos lutador's ó irmãos implacáveis! 

                                                           (Charles Baudelaire)

                                                                                  

                                                                                 Na melancolia de teus olhos
                                                                                 Eu sinto a noite se inclinar
                                                                                  E ouço as cantigas antigas 
  

                                                                                  Do mar.  


                                                      

                                                         Nos frios espaços de teus braços
                                                         Eu me perco em carícias de água
                                                         E durmo escutando em vão
                                                         O silêncio.


                                                         E anseio em teu misterioso seio
                                                         Na atonia das ondas redondas
                                                         Náufrago entregue ao fluxo forte
                                                         Da morte.


                                                                                    (Vinicíus de Moraes)




Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar...





















domingo, 6 de março de 2011

"El Rastro" de Madri


Todos os domingos e a maioria dos feriados, abro a janela da sala e observo a maré humana que percorre as ruas do meu bairro. Moro no centro de Madri onde acontece  a maior feira a céu aberto da Espanha.


Em 1497 foi instalado o primeiro matadouro municipal neste lugar. O nome “El Rastro” foi concebido devido ao rastro de sangue deixado pelas reses, que escorria ladeira abaixo para terminar no Manzanares, principal rio da capital espanhola.
O mercado medieval ao ar livre é um dos pontos turísticos mais visitados da península ibérica. É impossível classificar todos os artigos que são comercializados nessa gigante feira do rolo. Quadros, livros, móveis, objetos de decoração, muitas antiguidades e também novidades.  Produtos novos e usados, coisas que a gente nem sonha que ainda existam ou nem imaginava que existissem. E o que caracteriza esse tipo de comércio pelo mundo afora, não poderia deixar de ser igual no “Rastro” madrilense: preço barato. E ainda assim, pechinchar também é outra característica que não pode faltar.

É na madrugada que os comerciantes começam a montar suas barracas. A partir das sete da manhã, as pessoas começam a chegar. “Ribeira dos Curtidores” é a rua principal do mercado, e os quarteirões paralelos à ela constroem a própria feira em si, onde a maioria dos produtos são expostos no chão das calçadas, o que não ocorre na “Ribeira”, pois nela as barracas são “obrigatórias”. 


 
O maior cuidado que o visitante deve ter  é o mesmo recomendado em todos os lugares turísticos do mundo: tomar conta da carteira e da bolsa. Os carteiristas estão por todas as partes e, apesar do policiamento reforçado, a cada domingo, vários turistas acabam tendo o desgosto de serem furtados.
O fluxo de gente atinge o seu ápice ao meio dia e duas horas depois, começa a diminuir gradativamente e, às quatro horas da tarde, os comerciantes já estão recolhendo suas mercadorias. É nessa hora que os bares do bairro vizinho, “La Latina”, começam a encher. É o momento para o aperitivo, descanso e descontração com a família e os amigos.


Além dos eventos dominicais, “El Rastro” é um bairro conhecido também pelos brechós, sebos e antiquários que funcionam diariamente.  Está localizado no centro histórico de Madri, onde a cidade foi construída e definida como capital da corte espanhola. 
Quando vier por aqui, tenha o cuidado especial para programar um domingo por essa região que é a mais castiça, a mais madrilena.




quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Javier Bardem, "Biutiful" e "Uonderful"


Embora o Oscar seja considerado o prêmio da indústria cinematográfica, cujos critérios são questionados constantemente, não podemos negar a evidência de que qualquer profissional do cinema que seja indicado a concorrer a estatueta dourada entra no rol da consagração. 

Em 2001, Javier Bardem foi indicado ao Oscar de melhor ator por interpretar o escritor cubano Reinaldo Arenas no filme “Antes que Anochezca” (Antes do Anoitecer) e a partir disso o seu nome passou a ser conhecido internacionalmente.

Javier vem de uma família ilustre de artistas. Sua árvore genealógica está formada por grandes nomes do cinema e do teatro espanhol. Sua estreia na tela grande foi aos onze anos, com uma pequena participação em "El poderoso influjo de la Luna" (O Poderoso Influxo da Lua), protagonizada pela sua mãe, Pilar Bardem. Teve aparições esporádicas em algumas séries de televisão nos anos oitenta e em 1990 voltou a aparecer no cinema, em “Las edades de Lulú” (As Idades de Lulú), de Bigas Luna. Trabalhou sob a direção de Pedro Almodóvar, no ano seguinte, no filme “Tacones Lejanos” (De Salto Alto) e em 1992 tornou a atuar sob o mando de Bigas Luna, protagonizando com Jordi Mollá e Penélope Cruz, “Jamón, Jamón” (Presunto, Presunto), filme que os projetaram  à fama em esfera nacional, apesar das críticas.
Trabalhou com os maiores cineastas espanhóis ao longo de sua carreira e depois de protagonizar a película de Alejandro Amenábar, “Mar Adentro”,  chamou a atenção de diretores de outros países, pelo seu excelente trabalho.

Sua segunda indicação ao prêmio mais cobiçado do cinema mundial foi em 2007, por seu papel em Onde os Fracos Não Têm Vez”,  como ator coadjuvante e conseguiu levá-lo para casa, tornando-se o primeiro ator espanhol a receber um Oscar.

Para mim, Javier Bardem é um ator completo e recebo com grande alegria a notícia de que foi indicado pela terceira vez ao Oscar, pelo seu trabalho em “Biutiful”, do mexicano Alejandro González Iñárritu . Isso é sinônimo de que sua carreira está mais que consolidada.

Na vida pessoal, ele também deve estar muito feliz. Casado com a atriz espanhola  mais internacional, Penélope Cruz (também ganhadora de um Oscar), acabam de ser pais de um menino. Se o primogênito do casal seguir o caminho dos progenitores, o sobrenome Bardem continuará brilhando nas telas espanholas e do mundo.


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ofra Haza




A voz de Ofra Haza penetra pelo coração e faz a alma tremer.
Nascida em Tel Aviv, filha de judeus iemenitas, Ofra foi uma das cantoras mais relevantes de Israel.
Em 1974, ganhou um concurso musical de esfera nacional em seu país, quatro anos depois, lançou seu primeiro disco. Em 1983 participou no Festival Eurovisão e ficou em segundo lugar.
Nos anos seguintes, optou por diversificar seu gênero musical, alternando o pop com um estilo mais  étnico, cantando em árabe, hebraico e aramaico.
Com a finalidade de alcançar projeção internacional, em 1987, mudou-se para os Estados Unidos, mas não deixou de manter relação estreita com sua terra natal.
No final da década de oitenta, com a música "Im Nin' Alu" (alguns trechos da canção é interpretada em inglês, com sonoridades do Médio Oriente) fez sucesso na Europa, Canadá, Estados Unidos e Japão.
Foi nomeada para os Grammy nos anos noventa. Participou da cerimônia de atribuição do Prêmio Nobel da Paz, em 1994, onde foram ganhadores Yasser Arafat, Shimon Perez e Yitzhak Rabin, por motivo do Acordo de Paz de Oslo.
Em mais de duas décacas de carreira, Ofra nos brindou com uma discografia ampla e eclética. Independente do estilo que cantava, a sua voz foi seu maior instrumento.
No dia 23 de fevereiro de 2000, Ofra Haza perdia a vida em decorrência as complicações associadas ao HIV, embora a família nunca confirmou as circunstâncias de sua morte.


Escutei Ofra Haza por primeira vez quando assisti o filme francês "A Rainha Margot" (com Isabelle Adjani). Quando os créditos da película aparecem, surge a voz dela cantando "Eloi Hai", em hebraico.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Movida Madrileña


“...Segue a movida madrileña
Também te mata Barcelona
Napoli, Pino, Pi, Paus, Punks...”

Na canção “Vaca Profana”, Caetano Veloso menciona a movida madrileña em uma de suas estrofes e provavelmente, graças a essa espécie de mosaico cultural em forma de música, é que a maioria dos brasileiros ouviu falar sobre o assunto por primeira vez.
Na Espanha, os anos sessenta e setenta, foram vividos todos juntos, nos anos 80. Depois da opressão de uma ditadura de quase quarenta anos (1939-1975), Madri foi o cenário da grande revolução cultural que ocorreu naquela época e que logo se espalhou para o resto do país, em plena fase de transição à democracia. A movida madrileña foi o movimento punk espanhol.


No dia 09 de fevereiro de 1980, na Escola de Caminhos da Universidade Politécnica de Madri, vários cantores jovens se uniram para a realização de um show com a finalidade de homenagear a José Enrique Cano, o “Canito”, baterista do grupo “Tos” (que logo passou a se chamar “Los Secretos”), que perdera a vida ao ser atropelado por um carro no reveillón de 1979. Não eram conscientes de que o evento seria considerado oficialmente, tempos depois, como o início da “movida”.  Televisionado pela TV estatal espanhola, a apresentação dos grupos chocou aos que estavam acostumados a um padrão estético mais conservador e os agrediram com a falta de harmonia e qualidade nas canções apresentadas por músicos inexperientes.
A movida teria acontecido de qualquer maneira, independente do show daquele dia. Através da música, cinema, televisão, poesia, fotografia e outras formas de expressões, vários artistas manifestaram livremente suas ideias e inquietações. Foram seguidos por uma sociedade que carecia de novidade e criatividade.
O ambiente daquela época era de que tudo era permitido. A cultura dos bares e discotecas, evidenciou a bohemia e o que poderia ser considerado extravagante. 

  

 Na televisão, o programa “La Edad de Oro”, dirigido e apresentado por Paloma Chamorro, foi a maior vitrine da movida madrileña e a jornalista, consequentemente, sua maior musa. Nele, os entrevistados falavam sobre sua arte sem nenhuma censura. Também declaravam o uso habitual de várias drogas como estimulantes para a criação. Tudo era possível e divertido. 


Pedro Almodóvar  foi a maior estrela que surgiu naquela época e que alcançou projeção internacional e que se mantém até hoje no estrelato.  Atuava no teatro e era cantor de rock-punk, onde se apresentava travestido ao lado de Fábio McNamara. Como diretor, cultuou o marginal em seus filmes de forma ácida e crítica. Em sua filmografia, não há nenhum drama sem comédia e nenhuma comédia sem drama. Soube colocar os holofotes para a realidade do subterrâneo e que para a maioria dos conservadores e otimistas, era apenas o surrealismo de um jovem desvairado. 
A Espanha precisava mudar sua imagem de careta e reprimida. Necessitva se livrar dos resquícios da mão dura de Franco. Por isso, toda a transgressão foi respaldada principalmente pela classe política de esquerda. Queriam mostrar um país democrático, novo e principalmente, moderno.


 É difícil sintetizar a importância da movida. Aqueles anos foram  complexos e deixaram de herança uma multipluralidade de tendência e comportamento. É uma delícia esmiuçar o universo daquela época. No youtube, podemos ver apresentações de vários grupos musicais, entrevistas, inclusive, os programas de Paloma Chamorro. Mergulhar no passado recente da Espanha nos ajuda a entender melhor o seu presente. E constatando a eficiência da teoria de que no mundo tudo é cíclico, compreendemos a falta atual de grandes novidades por aqui.