Há alguns anos, conversando com amigos mexicanos, fiquei sabendo da Santa Muerte (Santa Morte), figura sagrada, adorada no México e que está se expandindo a outros países latinos e também aos Estados Unidos. Calcula-se que atualmente há mais de cinco milhões de seguidores em todo o mundo e o número vem crescendo a cada dia.
Santíssima Morte ou Menina Branca (Niña Blanca) é o sincretismo entre a fé católica e outras crenças mesoamericanas. Uma das características religiosas da cultura mexicana, desde a época pré-colombiana era a reverência à morte. Na Igreja Católica Tradicionalista Mexicana-Estadounidense ela é adorada, mas ela não tem nenhuma relação com a Igreja Católica Romana, que a repudia.
A Santa Igreja não a reconhece como santa e por isso seus devotos a adoram em altares caseiros, espalhados pelo país inteiro. Geralmente ela é representada como o anjo da morte, com uma gadanha e uma balança, vestindo mantos que variam de cores desde o branco ao preto, passando pelo vermelho, verde, azul, etc. As oferendas incluem rosas, cigarros, frutas, tequila, doces e maconha. Os santuários em homenagem a Santa Morte são enfeitados com rosas vermelhas, garrafas de tequila, cigarros e velas de várias cores.
A cada dia 20 de agosto, peregrinos de todo o México caminham para Tepatepec (Hidalgo), a 140 km da capital do país, para festejar o dia da santa, que coincide com o dia de São Bernardo. Na verdade a data não é uma coincidência, pois foi na igreja deste santo nesta localidade que encontraram a imagem de um esqueleto que o representava. As pessoas viram nela a figura da morte e começaram a adorá-la como santa, em vez de santo, já que a cultura mexicana sempre relacionou a morte com imagens femeninas. Quando os sacerdotes perceberam esse comportamento, levaram a escultura para uma casa particular. A peregrinagem começou na metade da década de 60.
Anterior a essa data, remontamos a 1795, onde o culto era realizado por indígenas da região central de México, que adoravam a um esqueleto. A Igreja Católica considerou esse ato religioso como satânico e o proibiu. Mas existem especulações de que apesar da proibição, as pessoas seguiram praticando o ritual de forma oculta, durante todo esse tempo. E essa tradição foi passada de boca em boca ao longo de várias gerações e atualmente ela ganha cada vez mais adeptos.
Padroeira dos criminosos e marginalizados
Há 11 anos, Enriqueta Romero, moradora do bairro Tepito, o mais violento de México DF, ganhou de seu filho, uma imagem da santa de 1,70m de altura. Como não tinha espaço em casa, decidiu colocá-la fora, ao lado do portão. Aos poucos as pessoas que passavam por ali, paravam e rezavam e logo apareceram outras deixando oferendas. A "virgem" ganhou um altar e uma vitrine, quando o número de devotos cresceu. Apesar de haver vários espalhados pelas ruas do bairro mais pobre da capital mexicana, o da dona Enriqueta acabou se transformando em outro ponto de peregrinação. Todo primeiro dia de cada mês, centenas de pessoas chegam na rua Alferaria para reverenciar o símbolo macabro ao lado de sua porta. Ela garante que não se beneficia economicamente da situação, apesar de ter uma barraca onde se vende medalhas, velas, cartas e outros itens associados à santa.
Na concepção de seus devotos, na maioria marginalizados, a Santíssima Morte tem o poder de curar e castigar. Traficantes, sequestradores e outros criminosos pedem a ela proteção e também castigo para os inimigos. Pessoas que vivem em comunidades violentas e mais pobres encontram nela o consolo para suas dores.
Uma das moradoras deste bairro, dona Ernestina, teve seu filho assassinado com sete balas por três marginais. O consolo para o seu luto foi ver atendido o pedido feito a "la flaca" ("a magra", expressão carinhosa que os mexicanos usam para referir-se a alguém) de que os culpados pela morte de seu filho tivessem o mesmo fim. Dois deles também foram mortos nas mesmas circunstâncias. E o mentor do crime se encontra em estado vegetativo, conta dona Ernestina com sorriso de satisfação no documentário "La Santa Muerte", narrado por Gael Garcia Bernal. Agora reza e pede para que a filha Gabriela Magali Soto Ramírez, presa por roubo qualificado, ganhe liberdade.
Imagens e santuários dedicados à Santa Morte são encontrados na maioria das penitenciárias de México. Cerca de quarenta por cento dos presidiários do país são veneradores da santa e muitos tatuam a imagem de seu ídolo no corpo.
Podemos encontrar ao longo das estradas mexicanas, santurários dedicados a "Santíssima Morte", normalmente construídos por traficantes. E apesar de ser um país laico, em 2009, as autoridades mexicanas destruíram trinta capelas dedicadas a ela nas cidades de Novo Laredo e Tijuana em resposta às suas relações com traficantes de drogas e a pedido de moradores locais.
Os devotos da padroeira dos pobres e marginais se consideram católicos, apesar da Igreja condenar de forma veemente qualquer culto a um santo que não seja canonizado por ela. Além disso, as autoridades religiosas cristãs consideram a Santa Morte como um símbolo satânico e que representa o inimigo de Jesus Cristo.
Um comentário:
Nao sei porque o espanto. Jà devia ter-se expandido o culto muito antes.
A Morte é necessària, imprescindivel mesmo. Morrer ée preciso para continuar vivendo!
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