Conscientes sobre o poder das palavras, o ser humano tenta usar as melhores para transmitir uma informação. No caso dos políticos, essa estratégia é usada de forma estudada, mas dependendo da seriedade da situação, o tiro pode sair pela culatra. Perde credibilidade perante a sociedade e acaba dando um prato cheio para os seus rivais.
O governo de Mariano Rajoy negou até a véspera de que Espanha não necessitaria ser resgatada. Uma semana antes já era o assunto mais comentado na mídia, repercutindo nas conversas de bares e praças.
Ontem finalmente aconteceu o que era esperado, mas que foi negado pelo primeiro ministro até o último dia.
Para não reconhecer que mentia, decidiu mudar a palavra "resgate" por "linha de crédito". E como líder cumpriu o papel de tentar convencer a opinião pública de que Espanha não está no fundo do poço como Grécia, Irlanda e Portugal. E que os espanhóis comuns não serão afetados de forma negativa. Disse que era o melhor que poderia ser feito. E como bem disse Alfredo Pérez Rubalcaba, líder do PSOE (partido socialista espanhol que está na oposição) : "O governo quer fazer nós acharmos que ganhamos na loteria". E realmente existe uma grande diferença em obter dinheiro como prêmio de algum concurso e um empréstimo. O primeiro é bônus e o segundo é ônus que será pago pelo suor e sofrimento dos trabalhadores.
Mentir não é uma conduta inaudita na classe política. Embora isso acabe gerando impopularidade, às vezes é necessário omitir e ocultar a realidade para não dar margens às especulações, principalmente quando se trata de economia. Mas para Mariano Rajoy e toda a equipe do Partido Popular, distorcer a realidade e negar o inegável é uma prática comum.
Antes de assumir o poder, dizia que não iria comprometer a educação, a saúde e que não faria nenhuma reforma trabalhista que prejudicasse o trabalhador. Grande mentira. Cortou verbas das áreas fundamentais que garantem o mínimo de qualidade de vida da população. E mexeu nas leis do trabalho, beneficiando principalmente os empresários, provocando um forte desequilíbrio entre os direitos dos trabalhadores e privilégios dos patrões. Baixou de 45 para 20 dias de indenização por cada ano trabalhado ao empregado demitido por justa causa. Ampliou os critérios que justifiquem uma demissão. Uma delas é que se o trabalhador estiver afastado por motivos de saúde por mais de nove dias em um período de dois meses, ele pode ser mandado embora legalmente.
Se o caos não fosse pouco, com o resgate ou "linha de crédito" para os bancos, o IVA, que é o imposto sobre qualquer produto que consumimos, irá subir. Os funcionários públicos sofrerão redução de alguns benefícios e possivelmente a idade mínima para a aposentadoria deixará de ser aos 65 anos para os 67 ou 68.
A cada dia mais de 200 famílias são despejadas e o número de espanhóis que entram para a linha de pobreza aumenta. E infelizmente, as medidas tomadas pelo governo parece beneficiar sempre os mesmos, enquanto aumenta o peso da engrenagem para o povo sustentar.
Mariano Rajoy tem a consciència tranquila e está contente com a "ajuda" que conseguiu para Espanha. Hoje viajou até Polônia para acompanhar o jogo de estreia de "La Roja" ("A Vermelha", expressão usada para se referir a seleção espanhola de futebol) contra Itália, afinal "eu mereço"- dizia. O resultado da partida ficou no 1 a 1. Como vemos na foto acima, Rajoy comemorou com euforia o primeiro gol na Eurocopa, assim como fez com o resgate europeu. O futebol pode ser uma boa analogia da economia.
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