sábado, 30 de junho de 2012

"Se eu tivesse casa..."


Raramente vejo alguma propaganda causar tanta polêmica e chamar tanto a atenção como a que foi lançada há mais ou menos duas semanas, aqui na Espanha.
Apesar de existir horário infantil protegido por lei, o conteúdo da programação televisiva viola constantemente essa restrição. Mas quando se trata de publicidade, o controle é mais rigoroso. E por isso, a emissão do anúncio do portal de classificados de imóveis "idealista.com" esteve mais ou menos um mês em negociação com os canais de televisão que negavam transmiti-lo.
A agência responsável decidiu levar o spot publicitário para o órgão que controla a publicidade no país e o veredito foi de que a peça não poderia ser exibida durante o dia. Então surgiu a ideia de reduzir alguns segundos e colocar as imagens distorcidas, informando que o anúncio, completo e sem censura, poderia ser visto depois das 22h ou na internet. As imagens não mostram efetivamente nada do que não é mostrado na televisão constantemente, mas alegaram que o conteúdo não era próprio para menores, pelo teor erótico.
Simples, inteligente e divertido. O objetivo de ganhar notoriedade entre os jovens, principalmente, foi alcançado.  Felizmente o problema não foi  mostrar casais homossexuais, pois a sociedade espanhola amadureceu bastante nos últimos anos e a convivência com a diversidade é algo que está normalizada por aqui.

                                                 Propaganda exibida durante o dia

                                                        Comercial exibido na televisão depois das 22h

                                                                             Essa é a versão de 46s


                                         "Procure uma casa pra você. Entre no portal idealista.com"




Imagine, by Antony Hegarty

Há alguns anos, estava na academia treinando quando um amigo veio e me disse: "Escuta esse cara, você vai gostar..." - ele colocou o fone no meu ouvido e no primeiro instante fiquei apaixonado. Existem cantores que tem voz peculiares e que a gente acaba gostando pelo conjunto de sua arte: letra da canção, a música, interpretação, etc... qualidades que são processadas gradativamente. Mas com Antony Hegarty a história comigo foi diferente. A voz dele me cativou instantaneamente. Depois fui processando o resto. Além do grande artista, a pessoa sui generis que ele é. Vendo algumas entrevistas e acompanhando a trajetória dele, percebi que ele é um desses seres que tem uma perspectiva transgressora sobre a vida. As questões existenciais propostas por ele são bem interessantes.
O artista que não tem uma identidade de gênero definida e não demonstra menor preocupação por isso, tornou-se um dos nomes mais emblemáticos do submundo "cult-intelectual" contemportâneo. Polifacético e talentoso, Antony personifica o âmago da sensibilidade.
"Imagine" é a expressão em si do romanticismo. A música utópica de John Lennon foi interpretada por outros cantores, mas sem dúvida, Hegarty a torna ainda mais especial. É uma viagem interior. É a escuridão que confirma a existência da luz.

                                                

Imagine

Imagine que não há paraíso
É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós
Acima de nós apenas o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo para o hoje

Imagine não existir países
Não é difícil de fazê-lo
Nada pelo que lutar ou morrer
E nenhuma religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo a vida em paz

Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu tenho a esperança de que um dia
você se juntará a nós
E o mundo será como um só

Imagine não existir posses
Me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome
Uma irmandade de humana
Imagine todas as pessoas
Compartilhando todo o mundo

Você pode dizer
Que eu sou um sonhador
Mas eu não sou o único
Eu tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo viverá como um só

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Eu não gosto de levantar bandeira...

Muitos entendem o feminismo como o antônimo de machismo e esse é um conceito equivocado. O movimento feminista surgiu para reivindicar equidade, pois na maioria das sociedades, a figura da mulher é inferiorizada. É a luta pelo respeito e igualdade de direitos. É a tentativa de acabar com a discriminação de gênero.
"Gay pride" em inglês significa literalmente "orgulho gay". É importante conhecer o contexto em que essa expressão passou a ser usada para que as pessoas entendam que não há um conceito exagerado nela, e tampouco soberbo.
Sabemos que o Dia Internacional do Orgulho Gay é comemorado no dia 28 de junho devido a rebelião que houve há quarenta e três anos, em Nova Iorque. Nessa época, as diligências policiais eram frequentes nos bares e os homossexuais eram tratados como bandidos e nunca ofereciam resistência. Mas nessa data, no bar Stonewall Inn, as pessoas que estavam ali, fizeram história. Decidiram enfrentar as autoridades e houve um grande confronto entre eles. A partir deste dia, sucederam várias manifestações e muitas pessoas decidiram afirmar a identidade homossexual como algo digno e não vergonhoso como era rotulada socialmente. Buscaram o contrário de vergonha e encontraram o orgulho.
A militância gay é atacada constantemente, inclusive por muitos homossexuais que não são capazes de entendê-la. Mas felizmente, existem muitas pessoas que lutam bravamente pelos direitos que nos são negados. Precisamos realmente de dizer que estamos aqui, somos parte da sociedade e não queremos viver segregados. Que não queremos nos sentir seguros apenas em guetos. O direito básico de ir e vir deve ser respeitado.
Quando eu leio as notícias sobre crimes homofóbicos, tento refletir e procurar entender como é possível que as pessoas sejam capazes de dizer que a bandeira do movimento gay é exagerada e desnecessária.
O discurso de que a sexualidade não é importante e que ninguém quer ficar preso em rótulos é muito bonitinho e até um pouco progressista. Mas é de um egoísmo e egocentrismo gigante. É lindo e moderno escutar de artistas que: "... eu amo pessoas e não gosto de bandeiras..."
Enquanto muitos não se sentirem realmente orgulhosos (não ter vergonha) do que são, a sociedade continuará dizendo que somos minoria e que não sabemos nos organizar.
Somos tantos, mas não somos muitos o suficiente para reivindicar o Casamento Civil Igualitário e a Criminalização da Homofobia.
Eu, particularmente, detesto levantar bandeira (acredito que a maioria dos militantes também compartilham o mesmo sentimento que o meu), mas quando vejo notícias como a morte de um dos irmãos gêmeos, ocorrido na Bahia (veja aqui a notícia), percebo que terei de continuar levantando o mais alto possível, para que ela seja vista e que saibam que não iremos nos esconder.
Devemos continuar nos manifestando e que as paradas gays sejam criticadas pelos demais. Não importa. Temos direito a festa, mas não podemos esquecer de que muitos outros nos são negados.
Pessoalmente, não gosto da palavra orgulho. Acho que realmente é um sentimento que é mais negativo do que positivo. Mas quando essa palavra representa não ter vergonha da minha sexualidade, eu a utilizo sem problemas. 

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Vagner Rossoni e a incansável luta pelos direitos LGBT

Nesta semana, por conta do dia internacional do Orgulho Gay,  começou a ser veiculada na internet mais uma campanha que almeja a conscientização da sociedade a respeito da violência que é cometida contra as pessoas LGBT. Todos pela "Criminalização da Homofobia" é a reivindicação popular que surge inicialmente no Rio Grande do Sul e que pretende ganhar apoio entre o resto da população brasileira.
Vagner Rossoni foi um dos convidados a estampar os cartazes desta mobilização que, não será apenas virtual, seguirá com eventos culturais e manifestações de protesto na capital gaúcha. No próximo dia 28, haverá um show para o lançamento da proposta e no dia 01 de julho ocorrerá a Mini Parada Livre de Porto Alegre, que estará focalizada fundamentalmente de maneira política. Esse ato acontecerá no Parque da Redenção, comandado pelo Grupo Desobedeça LGBT, do qual Vagner é um dos integrantes.
"Espero num futuro não ter que batalharmos tanto para algo tão comum e fundamental ao ser humano, ou seja, o resguardo de seus direitos!" -  conta Vagner, que além de ser estilista, blogueiro e colunista de duas revistas da região sul do país (Revista Lado A e Portal PortG), é também o artista que dá vida a personagem Über Nirvanna, consagrada desde o final dos anos noventa.
Foi se aprofundando no universo gay que ele percebeu a falta de proteção dos direitos deste coletivo e por esse motivou tornou-se militante da causa homossexual, atuando em palestras de conscientização e outros trabalhos voluntários. Inclusive criou sua própria marca de camisetas customizadas voltada para o público LGBT.
A respeito dessa nova campanha, ele se declara satisfeito em continuar contribuindo pela causa e espera que ela tenha um forte impacto social.
"Acredito que o fundamental é o respeito, não precisamos ser aceitos e sim respeitados, as leis brasileiras estão agora num momento de profunda transformação e é essencial que nossos direitos sejam resguardados como os de qualquer pessoa que paga seus impostos devidamente. ", opina o incansável Vagner.



segunda-feira, 25 de junho de 2012

Rafinha Bastos e o tombo do menino mimado

Os critérios são sempre subjetivos, pois quando se trata de relações humanas, especular matematicamente é sempre um grande risco. Mas independente da sensibilidade homo sapiens, a física é a lei que rege o universo e essa sim, é exata e imparcial. Ação e reação. Não falha.
Há mais de um ano, o jornal americano "New York Times" publicou uma pesquisa que revelava que Rafinha Bastos era a personalidade mais influente do twitter. Quais seriam os critérios?
A pesquisa feita não levava em conta apenas o número de seguidores, e sim o quanto se fala da pessoa no twitter e, principalmente, o quanto suas mensagens são retuitadas.
O impacto no protagonista foi o mesmo que sente o menino que arranca risada nos demais, quando tenta ser engraçado em cima do mais fraco da classe. A popularidade induz a continuar agindo na mesma linha. O céu não tem limites e o sofrimento alheio é indiferente. "Chora, tua lágrima é combustível para o meu poder".
Não é dificil ser polêmico quando se tem tanta visibilidade. Esquecer que existem certas responsabilidades quando você tem o poder de comunicar é uma atitude ingênua, típica dos que acreditam serem os donos do mundo. O poder é algo "imaginário", Rafinha!
"Ae órfãos! Dia triste hoje, hein?", escreveu no Twitter no dia das mães, no ano passado.
Em seu DVD, o "comediante" fez uma piada sobre a aparência dos rondonienses. "Eu acho todo mundo bonito. Isso é efeito colateral de uma temporada de shows que eu fiz em Rondônia". No mesmo material, está outra "piada" pela qual é processado pela Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais de São Paulo, onde diz que foi usar uma camisinha com efeito retardante e acabou tendo que internar o pênis na Apae. "Tá completamente retardado hoje em dia".
Curiosamente o DVD recebe o título de "A Arte do Insulto", onde ele conta que é contra filas preferenciais. "As pessoas na cadeira de rodas...Ah, fila preferencial. Adivinha, amigo? Você é o único que tá sentado. Espera quieto, cala essa boca."
"Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia... Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso não merece cadeia, merece um abraço."- outro comentário "engraçado" que gerou polêmica.
Rafinha Bastos faz rir as pessoas que como ele, são medíocres de valores morais.  Não há comédia nas tentativas de humilhar os outros. É como o adolescente na escola que procura popularidade, impondo sua crueldade sem escrúpulo sobre o mais vulnerável. Muitos riem porque preferem que o alvo seja o outro. "Antes ele do que eu".
Mas o calcanhar de Aquiles de qualquer pessoa soberba que se considera poderosa é achar que todo mundo é fraco.
A frase sórdida que usou para tentar fazer graça sobre Wanessa Camargo, que estava grávida, não lhe causaria nenhum outro problema se ela fosse uma pessoa comum e não a mulher de Marcos Buaiz. Essa polêmica e o desfecho da história, todo mundo conhece.
Em entrevista concedida a Marília Gabriela, Rafinha diz não estar arrependido de nada. Que não pede desculpas porque isso atentaria contra a vida e o trabalho dele. Banhado em lágrimas revela que o que lhe preocupa é a repercussão negativa que afeta a sua família. Ora... ele tem família e tem sentimentos. Esse trecho da entrevista mostra um rapaz especialmente egocêntrico e egoísta. Mostra um ser inflado de orgulho de tolo.
A estreia de seu programa na Rede TV foi um fiasco e ainda não houve um programa que desse 1 ponto de audiência.
O menino mimado descobriu que não é tão engraçado e que a influência que tem é realmente "imaginária". Isso lhe causa tristeza. Até o faz chorar. É necessário tempo para assimilar que não tem a capacidade dos grandes, em insultar sem ofender, e  que isso realmente é uma arte, mas que ele ainda não domina.

domingo, 24 de junho de 2012

Elizeth Cardoso, A Divina


Como há uma grande carência de novos nomes na nossa música popular, nada como mergulhar no passado e esmiuçar as amplas discografias deixadas por estrelas que brilharam durante décadas e que se tornaram mitos. Elizeth Cardoso é uma dessas, lançou mais de quarenta discos no Brasil e alguns no exterior.
A voz inconfundível que abrilhantou gêneros como o choro, o samba-canção e a bossa nova. A interpretação de "Rosa" (Pixinguinha) por ela é um verdadeiro primor.
Elizeth começou a cantar aos 16 anos, em 1936. Consagrou-se como uma das maiores cantoras da história brasileira e até hoje continua conquistando fãs, o que é normal quando se trata de grandes artistas. Graças a internet, os apreciadores de boa música podem encontrar um vasto material desta grande artista.
Uma das minhas músicas favoritas é "Todo Sentimento", de Chico Buarque e Cristóvão Bastos. Embora tenha sido interpretada por belissimos artistas, é na voz dela que essa canção acaba ganhando exatidão. Dizem que as primeiras vezes que ela a interpretava, acabava interrompendo com um choro copioso de tanta emoção.
A que recebeu vários apelidos como A Noiva do Samba-Canção, Lady do Samba, Machado de Assis da Seresta, Mulata Maior, A Magnífica, Enluarada e A Divina (este último é o mais marcante) faleceu antes de completar 70 anos, em 1991, vítima de câncer, deixando um grande vazio no cenário musical e que atualmente o sentimos ainda mais.


                                                 Elizeth Cardoso e João Gilberto, 1958


                                                  Elizeth Cardoso e Cartola, 1973

                                                 Elizeth Cardoso e Elza Soares, 1974

                                                                    Elizeth Cardoso e Leonardo Bruno, 1976

                              Entrevista concedida a Leda Nagle, quando comemorava os 45 anos de carreira

sábado, 23 de junho de 2012

Viva o orgulho gay!

Quando se diz que a homofobia mata, muitos se limitam ao sentido literal da expressão de forma unilateral. Pensam que se refere apenas aos crimes que são cometidos contra as pessoas homossexuais por terceiros. Mas existem outros graus de violência e formas de matar e morrer.
A homofobia internalizada presente no subconsciente coletivo é a que acaba com milhares de pessoas, de maneira invisível, pois é camuflada e disfarçada.
Penso nos gays que não foram capazes de dar o passo decisivo e se limitaram a acreditar que ser homossexual realmente é algo inferior. Nos que ficaram encerrados dentro deles mesmos, remoendo culpa, ódio e rancor. Nos que assumem e seguem as normas da sociedade, que se casam e constroem famílias.
Percebo que há muitos homossexuais que não tiveram coragem de enfrentar o entorno inóspito para os gays. Mas analisando de forma pragmática, considero a auto-repressão mais cruel. A eterna contenda entre assumir um comportamento aceitável ou reconhecer a própria identidade e se liberar de culpas.
Não há como negar que aprendemos que ser homossexual é algo menor, que está errado, que "contraria a natureza de Deus" e que é motivo de repúdio. Nos inculcam valores homofóbicos desde que nascemos.
Muitos somos capazes de questionar essa ditadura. Como é possível ignorar as nossas sensações e sentimentos? Por que não beber água quando temos sede?
A homofobia mata também de forma invisível aos olhos dos demais. Quantos gays reprimidos que se horrorizam com a liberdade dos que se atreveram a contradizer as regras sociais?
Quantos gays acabam cometendo suicídio quando descobrem a sua sexualidade? Sem contar os que vivem uma vida que não lhes correspondem realmente. Pessoas que não aceitam o desejo por outras do mesmo sexo e que assumem compromissos com o sexo oposto apenas para serem aceitos socialmente.
Dentro de cada quarto de uma pessoa homossexual reprimida está o fel da tristeza, seja ela solitária ou compartilhada.


Quando falo sobre a tristeza de não aceitar o que se é, sempre acabo lembrando do filme "Beleza Americana", mas especificamente do personagem de Chris Cooper, o coronel aposentado do exército que é a personificação da violência gerada pela falta de auto-aceitação. Por viver reprimido, ele acaba sendo o algoz da película.

Museu Reina Sofia, em Madri


O Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia é um dos museus de arte moderna mais importante do mundo e que no próximo mês de setembro completa vinte anos.
O museu que compõe o Triângulo de Arte de Madri (o museu do Prado e o Thyssen-Bormemisza são os outros dois) leva em seu nome uma homenagem à Rainha Sofia, rainha consorte de Espanha e possui dois edifícios; um do século XVIII conhecido como Sabatini e outro que começou a ser construído em 2001 e que foi inaugurado em 2005, o Nouvel. Os nomes de ambos estão relacionados com os sobrenomes dos arquitetos que os projetaram, embora o neo-clássico tenha sido desenhado inicialmente por José de Hermosilla.
Cronologicamente, a coleção é uma prolongação do museu do Prado e alberga mais de 16.200 obras que são do final do século XIX até a atualidade.
Com peças de artistas do mundo inteiro, o quadro de "Guernica", uma das obras mais conhecidas de Pablo Picasso, é sem dúvida a obra estrela do museu que, também conta com outras peças do artista "malagueño".
Salvador Dalí, Joan Miró, Diego Rivera e Roberto Matta são outros nomes com obras expostas, entre muitos outros.
Os três museus mais importantes de Madri estão bem localizados no centro. O Reina Sofia está próximo da estação central de trens da capital, Atocha.
Deixo abaixo o link da página web oficial do museu, com todas as informações necessárias sobre horário de funcionamento e tarifas.

http://www.museoreinasofia.es/index.html


Ressalto que é possível visitá-lo grátis todos os dias, nos seguintes horários:

Segunda a sexta-feira:  das 19:00h às 21:00 h
Sábado: das 14:30h às 21:00h
Domingo: das 10:00h às 14:30h
18 de abril, 18 de maio, 12 de outubro e  6 de dezembro




sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sorte ou azar?

Existe uma história taoísta bastante conhecida que considero uma reflexão muito boa sobre a perspectiva e o tempo, que serve para qualquer momento das nossas vidas. Ela fala sobre um camponês que morava em uma aldeia com seu único filho. Eles só tinham um cavalho velho que ajudava a levar a colheita ao mercado. Numa noite, a aldeia sofreu uma forte tempestade.  No outro dia, o camponês acordou com a surpresa de que o cavalo havia fugido.
Um vizinho curioso se aproximou e disse com muito pesar:
_ Que azar que você tenha perdido o seu cavalo.
Diante essa observação, o camponês respondeu:
_ Se sorte ou azar, só o tempo poderá dizer.
O vizinho olhou com incredulidade e se distanciou, coçando a cabeça em sinal de desconcerto.
No dia seguinte, para a surpresa do sábio camponês, viu que o cavalo havia regressado e com ele trouxe vários cavalos selvagens. Novamente o vizinho se aproximou.
_ Que sorte você tem, meu amigo. Agora ficará rico vendendo esses cavalos!
_ Se sorte ou azar, só o tempo poderá dizer.- disse.
No dia seguinte, seu filho foi começar a domar os cavalos para poder vendê-los. Logo no primeiro ele foi derrubado e quebrou o braço direito. O vizinho novamente apareceu e disse:
 _Que azar seu filho quebrar o braço, agora não terá mais quem possa te ajudar.
O sábio calmamente respondeu:
_Se azar ou sorte, só o tempo poderá dizer.
 Após alguns dias, eclodiu uma guerra e todos os jovens foram convocados para se alistarem e partirem imediatamente para o campo de batalha. O filho do sábio, como estava com o braço quebrado acabou sendo dispensado.


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Qual é a sua programação?

Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos, essas são as etapas naturais da vida. A inteligência humana nos difere de todos os demais seres vivos do planeta.
Nos reunimos em sociedade e estabelecemos normas e costumes. Curiosamente essa é a segregação que separa os seres humanos.
Quando nascemos, somos programados para agir em comunidade. Seguimos modelos estabelecidos e os mesmos estão para não serem questionados. Nos inculcam valores morais, éticos, religiosos, patriotismo, etc. Nos ensinam a alcançar objetivos idealizados para que a engrenagem continue funcionando.
Outro dia conversando com um amigo, acabei comentando que acho bonito o fato de comer sem o auxílio de talheres, pois quando era criança o fazia, mas logo era repreendido. Quando estive em Marrocos, vi os árabes comendo dessa maneira. Meu amigo achou nojento e logo repliquei, pois recordei imediatamente dos meus primeiros anos de vida. Comer com a mão é uma expressão natural, primitiva. Garfo, colher e faca são objetos que foram inventados por nós mesmos. Se vou a um restaurante e dispenso esse artifício, seria mal visto e chamaria a atenção de todos que estivessem ali. Esse é apenas um pequeno exemplo sobre nossa programação.
Antigamente as pessoas nasciam para se casarem e formarem família. Era outra ditadura, acompanhada de muitas outras. Pobre daquele que não chegasse a encontrar outra pessoa para cumprir essa norma. Ficava mal visto.
Há pessoas que não compreendem exatamente o significado do feminismo, acreditam de forma equivocada que é o antônimo do machismo. A pessoa feminista só luta pela igualdade de direitos, independente do gênero.
A mulher sempre assumiu um papel submisso na sociedade: casar, procriar, cuidar da casa, do esposo e da prole. Aceitava em silêncio as aventuras do marido com outras mulheres e estaria condenada para o resto da vida se fizesse o mesmo. As regras do matrimônio são várias e a fidelidade é algo que é imposto de maneira inflexível para ambos, mas nos olhos de deus e dos demais, existe o consentimento velado para o homem que é macho e essa é a sua natureza. Tudo são normas, sejam elas formais ou não, geralmente são hipócritas.
Muitas religiões e também governos fomentavam a formação de família numerosa. Oras, com tantos filhos para sustentar e cuidar não dava espaço para ninguém pensar. Inventaram até o romanticismo para não nos tornarem tão mecânicos.
O modelo social em que vivemos está feito para que sejamos infelizes como sempre. Nos inculcam uma série de objetivos e responsabilidades para que continuemos correndo para não chegar a lugar nenhum. Assim não pensamos e continuamos sustentando o topo da pirâmide.
Somos educados para "vencer na vida". Devemos ser aceitos e considerados pelos que estão ao nosso entorno. Ter dinheiro, bom emprego, um bom carro, alma gêmea, família de comercial de margarina, estar em boa forma e com a aparência impecável. Todos queremos ser ricos, bonitos e famosos. Desejamos amar (no conceito mais errado deste sentimento) reciprocamente. Nossa autoestima e felicidade são colocadas em lugares distantes. Quando atingimos algum desses objetivos, somos felizes... mas como são sentimentos mundanos, são efêmeros e logo se vão. E vem a infelicidade, a tristeza, a frustração.
Somos escravos dos nossos desejos e eles são impostos pela nossa cultura. Ignoramos a nossa realidade, a nossa essência. Quase ninguém aceita ser real e abrir os olhos e questionar. Estamos tão aferrados aos nossos sonhos que nos distraimos constantemente. Estamos colocando o que achamos importante para a nossa felicidade a quilômetros de nós mesmos.
Quando alguém pede ajuda para conseguir algo a Deus, sempre digo que tudo o que precisamos já foi nos dado quando nascemos. Só devemos procurar a forma de saber usá-lo.
A felicidade está dentro de nós. Se a procuramos em outra pessoa, isso não será felicidade. Se a procuramos em um bom emprego, isso não é felicidade. Se a procuramos no dinheiro, isso não é felicidade.... todos esses artifícios são perigosos. Pois acabamos dependendo deles para sermos felizes. É como uma droga. Por isso há tantas pessoas inseguras neste mundo, pois ainda não encontraram o que precisam dentro de si mesmas.
Não devemos condicionar a nossa vida a qualquer coisa que nos impeça de sermos o que somos.

Madonna volta a reinar em Barcelona


A Madonna World Tour 2012 com a estimativa de 90 apresentações, começou no dia 31 de maio em Tel Aviv, Israel.
Por onde passa, a rainha absoluta do pop causa muito alvoroço. Cada show é um verdadeiro acontecimento e são noticiados em todos os veículos de comunicação, inclusive nos telejornais.
Quando Madonna regresse aos Estados Unidos, terá passado por 26 cidades europeias. Hoje aconteceu o primeiro show, dos dois agendados, no pavilhão Sant Jordi para mais de 18 mil pessoas. Barcelona é a quarta cidade europeia a recebê-la de braços abertos e é a única espanhola por onde a diva se apresenta.
A agonia do atraso de quarenta minutos desapareceu no momento em que ela apareceu no palco. "Girl Gone Wild" foi a primeira canção e "Celebration", a última. Foram mais de duas horas de espetáculo que, medindo pela euforia do público, agradou e muito. 
Não foram somente os fãs e admiradores que demonstraram satisfação com o show. A imprensa espanhola fez uma ótima crítica e amanhã ela estará na capa dos principais jornais do país.  
Madonna é a única artista viva que transforma seu passo por cada lugar em um verdadeiro acontecimento social. 







terça-feira, 19 de junho de 2012

Gisele Bündchen outra vez no topo da lista Forbes

Anualmente a revista Forbes publica quem foram as modelos que mais faturaram. Na lista que recolhe dados de maio de 2011 até maio de 2012, Gisele Bündchen, outra vez, está no topo da lista. A única übermodel do mundo arrecadou 45 milhões de dólares.
A segunda da lista, a modelo britânica Kate Moss ganhou bem menos, mas ainda assim, uma excelente cifra: quase 10 milhões de dólares. Entre as "top ten" estão mais duas brasileiras: Adriana Lima e Alessandra Ambrósio.


 As mais ricas, em dólares


Eu particularmente não aprecio o mundo da moda em si, mas há algumas modelos que estão na mídia e que acabam chamando a minha atenção. As três conterrâneas citadas acima são simplesmente lindas e influenciado pela minha amiga Cláudia, não deixo de ver a cada ano, os desfiles de Victória´s Secret. São verdeiros espetáculos, com lindas produções e belíssimas modelos.

                                       Victoria Secret Fashion Show Live - 2009  (Black Eyes Peas)


                                      Alessandra Ambrosio Victoria´s Secret Fashion Shows (2000-2010)
                                               Adriana Lima Victoria's Secret Fashion Shows 1999-2010


   
Gisele Bündchen Victoria´s Secret Fashion Shows 1999-2006
 
 

"Skinheads voltaram a atacar no centro da cidade. O alvo foi um casal de homossexuais que estaria praticando atentado violento ao pudor"

                                                                1

Contava ansioso os minutos para que tocasse o sinal. Já saia de casa pensando na hora do recreio. Durava somente quinze minutos. Esse intervalo de tempo era o que eu tinha para poder vê-lo.
Escolhia minuciosamente a roupa que ia vestir, roubava o perfume do meu irmão mais velho, porque achava que o dele sempre era melhor que o meu. Tentava encontrar a melhor forma para o cabelo. A dúvida de colocar gel, consumia mais minutos do que eu dispunha para encontrá-lo. Sempre fui determinado, mas aquele sentimento havia abalado minhas estruturas e sentia uma insegurança avassaladora.
- Parece que está no mundo da lua! - alguém do grupo sempre dizia, quando estávamos no pátio. Fiscalizava cada perímetro do lugar. Aquele vai e vem de pessoas rindo, conversando, gritando, correndo... a rotina da escola seguia igual, mas para mim era diferente. Vivia em um mundo paralelo.
Foram três anos assim. O tempo que durara o curso. Já tinha dezenove e no último semestre, eu e meus amigos éramos os mais populares e quase todas as garotas queriam ficar com a gente. Nos limitávamos no nosso mundo infinito: escola, pista de skate, festa e discoteca.
Meu coração apertava e a cabeça ficava perdida enquanto os olhos não o avistava. A necessidade de dividir o mesmo ar era tão profunda que não me importava vê-lo nos braços de outra qualquer. E entregado no abraço de qualquer uma era a maneira de permancer no grupo e seguir convivendo com ele.
Não sei como explicar, pois parece tudo muito distante. Não consigo entender que estávamos sempre nos mesmos lugares, tínhamos muitos amigos em comum e nós dois apenas nos cumprimentávamos.
- Você não vai com a minha cara, né? - perguntou enquanto mijava, apoiando o braço na parede. Era a terceira vez que coincidíamos em um banheiro.
- Não...
- Eu sabia!
- Não... não é isso. Pelo contrário, acho você um cara legal.
- Sério mesmo? - perguntou sorrindo, enquanto subia o zíper da calça - Você sempre me olha com cara feia!
- É impressão sua, cara! - respondi nervoso. As pálpebras dele estavam quase fechadas. Havíamos bebido muito naquela noite. Ia dizer alguma coisa, mas chegaram mais três garotos gritando e o som da discoteca me calou, quando abriram a porta.
Duas semanas depois, na festa de Laura, voltamos a nos falar. As garotas com as que estávamos ficando continuaram na sala dançando, enquanto nós dois saimos para a varanda. O que sentia por ele me dava a sensação de familiaridade e intimidade, mas eu tentava entender que isso eram truques do meu sentimento. Não podia demonstrar isso em nenhum momento.
- Cara, pelo jeito a coisa está séria entre você e a Sandra, né?- perguntou enquanto acendia um cigarro.
- Sei lá... a gente se curte.
- No feriado eu e a Paula vamos para a praia. Se vocês quiserem vir. Meu pai já liberou a casa.
Senti um frio na barriga e só de imaginar uma viagem com ele, comecei a tremer. Respondi que aceitava, forçando uma certa naturalidade. Convidei a Sandra para que fôssemos e ela aceitou na hora.

                                                               2

Quando liguei para Sandra e ela disse que não poderia ir, pois a mãe havia adoecido, entrei em pânico. Não sabia como seria a viagem sem ela. Na hora me senti um pouco egoísta, mas o desejo de estar ao lado dele era tão grande que qualquer reprovação moralista desapareceu na hora. Iria de qualquer jeito. Afinal, eu já havia me comprometido e eles dependiam do meu carro para chegar até a praia.
Buzinei na hora marcada. Fazia calor e eu suava como nunca. Quando ele apareceu no portão com a mochila nas costas, senti uma felicidade nunca experimentada. Aquele sorrisão branco despreocupado, moldurado pela boca vermelha perfeitamente desenhada por Deus.
- Cara, você nem sabe o que aconteceu - disse enquanto apoiava a mão na porta do carro - Eu e a Cris acabamos brigando ontem e ela desistiu de ir. Terei que segurar vela.
Olhei para ele e naquele instante comecei a acreditar de alguma forma que realmente o destino existia. Quando comuniquei que Sandra tampouco iria, ele fez festa e comemorou o fato de que estaríamos "solteiros" na praia. Seriam quatro dias de festa e muitas possibilidades.
Durante a viagem, coloquei Legião Urbana para nos acompanhar.
- O Renato era um poeta, né?
- Com certeza, as letras dele são ótimas. - respondi.
- Gostaria de ter vivido os anos oitenta. Meus pais dizem que foi uma época muito boa para a música e que só tinha fera.
- É verdade. A Legião marcou uma geração...
E estendemos a conversa sobre música e citamos as bandas e os artistas que se destacaram nos anos oitenta, época que nós ainda éramos bebês. Depois falamos sobre cinema e futebol. Naquelas duas horas que durou o trajeto, descobrimos que tínhamos muitas afinidades.
- Pô, cara! Nós nos conhecemos há tanto tempo e não nos conhecíamos! - disse ele exaltado - Sempre achei você um pouco arrogante.
Dei risada e não soube o que responder.
Quando chegamos ao nosso destino, fiquei gratamente surpreso em descobrir que a casa estava em frente a praia. Tínhamos cerveja e comida para quatro dias. Apesar de ser véspera de feriado, não havia muito movimento na cidade. Era tarde e decidimos ficar em casa. Na televisão, uma partida de futebol e o melhor de tudo era que torcíamos para o mesmo time.
Enquanto ele preparava sanduíches, coloquei algumas latas de cerveja em um balde com gelo e sal. Pouco tempo depois estávamos sentados no sofá assistindo o jogo. Era tudo perfeito e para completar, o Flamengo ganhara de dois a zero do Fluminense.
- Você pode escolher o quarto que quiser - falou - Eu vou dormir no dos meus pais.
Me acomodei no que estava ao lado e embora estivesse cansado da viagem e um pouco bêbado, não conseguia pregar o olho. O cara pelo qual eu estava apaixonado há três anos estava a poucos metros da minha cama. Tantas noites em branco pensando nele, com a sensação de uma distância cruel e injusta. Agora estávamos ali, pertos um do outro. Isso já era muito, mas meu coração queria mais...

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Duas noites depois aconteceu o primeiro beijo e consequentemente uma noite de paixão. O silêncio incômodo do dia seguinte, a viagem de volta com poucas palavras e o processo difícil de assimilar a situação. A dúvida, o medo e o terror de ficar longe dele. A indiferença e a falta de notícias eram motivos para uma angústia sem fim.


Passaram algumas semanas e ele me ligou. Marcamos um encontro. Apareceu ao lado de outra garota e lamentou que eu e Sandra já não estávamos mais juntos. Ele agia como se nada tivesse acontecido.
Três meses depois, por ocasião de outro feriado, me convidou para que fôssemos a praia. Quando frisou que seríamos só nós dois, gozei de tanto êxtase.
Eu o amava como a mim mesmo. E sabia que era recíproco. O processo de auto aceitação para ambos foi difícil. Depois de dois anos, decidimos revelar para nossas famílias e amigos o que todos suspeitavam. Ainda assim foi um choque e só tornei a sentir o amor dos meus, alguns meses depois. Acabaram se acostumando com a ideia e os que não aceitavam, respeitavam. Foi difícil romper preconceitos e tabús. Demonstrar que éramos felizes juntos e que não prejudicávamos ninguém. Quando nossos pais aceitaram a realidade, deixaram de sofrer. Perceberam o quanto foram egoístas por terem criado tantas expectativas sobre a gente.
- Eu te amo, cara! - me disse pela primeira vez, depois de quatro anos, enquanto eu estava lendo uma revista na casa dele. Surpreso, olhei em seus olhos e disse que também o amava.
Notei o quanto éramos diferentes da maioria das pessoas nesse momento. Pois éramos namorados há tanto tempo e sabíamos que nos amávamos verdadeiramente. Todos os gestos e atos demonstravam isso. O olhar, o sorriso e o respeito dissipava a carência das palavras. Estávamos crescendo juntos. Já não lembrava da vida sem ele.
Alguns anos se passaram e a nossa relação teve altos e baixos. Surgiram outras paqueras e mal entendidos. Mas nunca perdemos o amor que tínhamos. A base da nossa convivência era a liberdade. E às vezes eu chegava a pontos que ele não acompanhava e vice-versa. Esses eram os momentos mais difíceis. Os mais felizes era quando nos reencontrávamos. Estávamos em constante evolução. Voávamos como os pássaros em perfeita harmonia e assim como eles, de vez em quando um perdia a sintonia, entrando em outra corrente. Mas sempre voltávamos para nós.
Quando chegamos aos trinta, nos encontramos de forma definitiva. Já não havia ansiedade, apenas pequenos sonhos e éramos tão livres que sabíamos que o cumprimento deles ou não, jamais afetaria a nossa felicidade. Estar ao lado do outro era suficiente. Éramos imperfeitamente perfeitos em nossos planos, acertos e erros.

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Nunca esquecerei daquele dia. Ele se repete uma e outra vez na minha cabeça e nos meus pesadelos. Acordo assustado pela noite e não consigo voltar a dormir. Tenho a sensação de não haver descansado desde então. Tenho medo de tudo.
Sai do escritório às oito da noite e fui direto para o hospital. Queria conhecer o pequeno Matheus que acabava de nascer, trazendo com ele a alegria de outra vida que chegava. Fui contagiado pela empolgação da sua voz, quando me ligou.
- Nosso primeiro sobrinho! - dizia - Ele é lindo, parece muito com a minha irmã!
Durante o trajeto, tive um problema com o carro e somente depois de duas horas, pude chegar. Já sabia que a visita seria para o dia seguinte, mas mesmo assim fui até o hospital para pegá-lo e irmos para a nossa casa.
Parei na rua de trás, onde pude estacionar.  Liguei avisando que já estava ali. Cinco minutos depois ele veio correndo com aquele sorriso lindo de felicidade.
Não sei... quiçá eu tivesse permanecido no carro, a história seria diferente. Talvez se vivêssemos em outra sociedade, eu ainda o teria comigo.
Abri a porta do carro e sai ao seu encontro. Nos abraçamos efusivamente e ele acabou me beijando. A rua tinha pouca iluminação, era tarde e não passava ninguém.
- Vocês devem morrer, seus viados filhos da puta! - lembro dessa voz até hoje, carregada de ódio. Senti uma pancada na cabeça e minha vista se escureceu.


Quando voltei a abrir os olhos, me contaram o desfecho daquele dia fatídico. Estive em coma durante quinze dias. Ele já não estava. Fora expulso deste mundo hediondo e levou consigo toda a minha vida.

Voltei a morar com a minha família, pois não tinha (e ainda não tenho) forças de regressar àquela casa. Meses depois, arrumando uns livros, encontrei uma folha de jornal. Desdobrei e vi no rodapé dela uma nota que me entristeceu ainda mais, cuja manchete era:

"Skinheads voltaram a atacar no centro da cidade. O alvo foi um casal de homossexuais que estaria praticando atentado violento ao pudor."

                                                                                                               fim



O Grupo Gay da Bahia  faz a contagem de homicídios motivados pela homofobia através de notícias publicadas na imprensa. Segundo o levantamento, em 2011 ocorreram 266 homicídios - um recorde desde o início dos levantamentos na década de 1970. De acordo com o GGB, foi o sexto ano consecutivo em que houve aumento desse tipo de crime. 


Atrás de cada número existe o fim de uma vida, o fim de uma história. 

A relação é que a cada um dia e meio ocorre uma morte. O Brasil é um país relativamente perigoso para homossexuais

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Gracias a la vida, de Violeta Parra


 Uma das letras mais bonitas da inesquecível Violeta Parra. Sem dúvida uma das maiores artistas das Américas, de todos os tempos. A história pessoal dela é tão incrível quanto o talento que tinha para compor letras e músicas.
Um ano depois de compor "Gracias a la vida", música que é uma verdadeira reverência à vida, a cantora chilena se suicidou, aos 49 anos.



Gracias a la Vida

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio dos luceros que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado el oído que en todo su ancho
Graba noche y día grillos y canarios
Martirios, turbinas, ladridos, chubascos
Y la voz tan tierna de mi bien amado

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él, las palabras que pienso y declaro
Madre, amigo, hermano
Y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos, montañas y llanos
Y la casa tuya, tu calle y tu patio

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de tus ojos claros

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos que es mi propio canto

Gracias a la vida, gracias a la vida
 

domingo, 17 de junho de 2012

Façam como Pepê e Neném: sejam vocês mesmos


As gêmeas Potiara e Potiguara têm a solidez de diamante, resistiram as adversidades típicas que podem enfrentar as pessoas afrodescendentes que nascem na periferia e que perderam a mãe sendo ainda bebês. O contexto e as condições inóspitas em que cresceram não são nenhuma novidade para nós brasileiros. Vemos essas histórias como as delas se multiplicarem por milhões no nosso extenso território geográfico.
Lembro que a dupla fez muito sucesso e que estava presente em programas de televisão de grande audiência. Todo mundo no Brasil sabe quem são Pepê e Neném. Duas figuras carismáticas que encantam pela simplicidade.
Há anos não sabia nada delas até assistir o programa da Marilía Gabriela, no SBT, na semana passada. Pude conhecer um pouco mais sobre a biografia das duas que se infundem e confundem e se opõem a qualquer tentativa de definição simbiótica. São iguais em muitas características.
Revelar a homossexualidade no Brasil é um ato de coragem. Sabemos que existe um infinito número de artistas que carregam consigo o estigma da dúvida sobre sua sexualidade. Muitas vezes a incerteza pode proporcionar algum benefício, mas essa vantagem é assumida por covardia e egoísmo. Pepê e Neném assumiram serem lésbicas e vendo a entrevista que concederam ao Danilo Gentili, depois de terem sido "trend topic" no twitter e um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, percebi que elas estão felizes por terem assumido essa outra característica tão importante da identidade delas.
O apresentador de "Agora é Tarde" nem sempre é feliz em suas perguntas e muitos convidados acabam sofrendo pela falta de traquejo dele. Mas precisamente essa entrevista, que ele fez com as gêmeas cariocas, foi espetacular.
Pepê e Neném se mostraram espontâneas e confortáveis. Riram muito e fizeram rir. A naturalidade da "conversa" foi positiva e o ex-integrante do CQC esteve muito bem. Não mostrou pitadas homofóbicas e tampouco espetacularizou o assunto.
As garotas de riso fácil e sotaque carioca de morro merecem parabéns pela ousadia de serem o que são, abertamente.
Apesar de não apreciar o que elas cantam, reconheço que as duas são donas de grandes vozes e que deveriam ser exploradas em outros gêneros. E como no Brasil a música está em coma, pois nunca existiu uma geração tão ruim musicalmente, torço para que Pepê e Neném tenham sorte na escolha de repertório e que estejam bem assessoradas, pois não há dúvida do potencial que elas têm.

                                            Agora é Tarde (TV Bandeirantes), 13/06/2012

A paixão é o exato oposto ao amor


Existe um provérbio chinês que diz:

"Quando o olho não está bloqueado, o resultado é a visão. Quando a mente não está bloqueada, o resultado é a sabedoria e quando o espírito não está bloqueado, o resultado é o amor."


Ser transformado em amor, isso é amar a Deus. Que mérito teria se cumprimentasse somente aos que te cumprimentam? E se amasse somente aos que te amam? Você tem de ser amor total, como o Pai celestial é todo amor.
Quanto mais se ama os outros, mas pode fazê-lo sem eles. Quanto mais se ama os outros, mas pode fazê-lo com eles.
Só existe uma necessidade. Essa necessidade é amar. Quando alguém descobre isso, é transformado. Quando a vida se transforma em oração... a espiritualidade se traslada aos nossos atos.
Quando se sabe amar é sinal de que chegou a perceber as pessoas como teus semelhantes. Ninguém é melhor ou pior que você. O amor de verdade é um estado de sensibilidade que te capacita a se abrir para todas as pessoas e à vida.
Você não pode exigir  que ninguém te ame. Não seja exigente e solte os apegos,  assim você poderá reconhecer quantas pessoas te amam como você é, sem te exigir nada, e começará a saber o que é amor.
Quando se ama alguém de verdade, esse amor desperta o amor ao teu redor. Você se sensibiliza para amar e começar a descobrir a beleza e o amor em tudo.
Somos analfabetos na expressão de sentimentos.
Até que não veja as pessoas como inocentes, não saberá amar como Jesus.
O amor é: eu estou do teu lado, não estou contra você.
O amor verdadeiro é algo impessoal, pois se ama quando o "eu" programado já não existe.
O que ama, termina sempre por viver no mundo do amor, porque os demais não tem mais remédio que reagir pelo que lhe impacta.
Amar é como ouvir uma sinfonia. Ser sensível a essa sinfonia. Significa ter um coração sensível a tudo e a todos.
Deus é o Pai, mas um bom pai que ama na liberdade, e que quer e propicia que seu filho cresça na força, sabedoria e amor.
O egoísmo é exigir que o outro faça o que você quer. Deixar que cada um faça o que quiser é amor. No amor não pode haver exigências nem chantagens.
O amor desinteressado existe, é o único que se pode dar o nome de amor.
Amar significa ver o outro claramente como é.
O amor não é desejo, não é fixação. A paixão é o exato oposto ao amor.
Cada um vai procurando-se a si mesmo, porque se não nos encontramos a nós mesmos, não poderemos chegar aos demais. 
                                                                                      Anthony de Mello

sábado, 16 de junho de 2012

Aumenta a delinquência e a xenofobia na Europa

Em circunstâncias extremas de medo, o ser humano perde o civismo e procura atacar o inimigo como forma de defesa. Se analisarmos a história da humanidade, vemos que a violência sempre foi a maneira de expressar a insatisfação com a realidade. O capital sempre foi o responsável pelas guerras de poder, camuflado de alguma ideologia convincente que acaba ampliando o número de adeptos a medida que a situação vai se estreitando.
Na Alemanha, a depressão econômica mundial de 1929 fez com que a República de Weimar  fosse perdendo popularidade devido as adversidades consequentes da crise financeira. Não foi difícil convencer os alemães a colocar o poder nas mãos de Adolf Hitler, em 1933. Um dos maiores vilões da nossa era, acabou com a vida de mais de seis milhões de pessoas com o respaldo da metade da população que acreditava que os judeus eram os responsáveis de todas as mazelas sociais.
Os países da União Europeia estão enfrentando outro desafio pela frente que é não repetir os erros do passado em circunstâncias similares a década de trinta, embora o contexto político seja diferente daquela época.
A delinquência na Grécia aumentou desde a quebra, em 2010. Desde então, os assaltos armados a casas aumentou mais de 100% e os homicídios 5%. Paralelo a este tipo de violência, o número de suicídios cresceu vertiginosamente. Somente neste ano foram registrados mais de 150 casos. O ambiente é caótico e talvez por isso o partido nazista Aurora Dourada venha ganhando a simpatia dos gregos.
Com uma polícia sem recursos e desmoralizada pelos cortes salariais, a violência na rua tem aumentado. Os nazistas tem organizado patrulhas nos bairros para diminuir a insegurança e essa atitude tem sido aplaudia pelos gregos. É comum vê-los agredindo verbalmente e fisicamente os imigrantes. Atualmente, o berço da civilização não é lugar para gente de fora. Até turistas já foram vítimas desses atos.

                                          Grupo racista ataca a imigrantes na Grécia

Na Espanha, o número de ocorrências de violência subiu levemente em comparação ao ano passado. A segurança é um dos quesitos que garante a qualidade de vida dos cidadãos, mas com o aumento da crise econômica, o número de pobres vem aumentando a cada dia, criando um cenário propício para uma previsão pessimista.
O desemprego entre os jovens na Europa faz com que a criminalidade aumente, principalmente nos países periféricos.  Os governos perdem autoridade moral, diminuem gastos com a segurança pública e os mais frágeis acabam ficando mais desprotegidos.
Dizem os mandatários europeus que amanhã será um dia crucial para determinar o futuro da Europa, pois haverá eleição na Grécia. .Segundo as medidas que forem tomadas pelo novo governo grego, o país poderá realmente cair e derrubar Irlanda, Portugal, Itália e Espanha. E isso seria multiplicar negativamente o que acontece por aqui e afetaria como um tsunami os outros países do mundo.
Talvez a interpretação do calendário maia de que 2012 seria o apocalipse não deveria ser tão desconsiderada.  Mas podemos olhar de forma positiva,  pois não teríamos que nos preocupar com a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

De Madrid al cielo - Plaza Mayor

Os madrilenses são orgulhosos de sua cidade. Existe uma expressão popular que diz "De Madrid al cielo" (De Madri ao céu) que é repetida reiteradas vezes pelos filhos desta terra e também pelos que aqui chegam e se apaixonam a primeira vista.
Madri é uma cidade que seduz, encanta e acolhe a pluralidade sem preconceitos. Poderíamos mudar o "i" pela "e" e seria "madre", que em espanhol significa mãe. Mas a origem da palavra que dá nome a cidade não tem nada a ver com isso e não sei se essa associação foi feita alguma vez.
"De Madrid al Cielo, y en el cielo, un agujerito para verlo" (De Madri ao céu, e no céu, um buraquinho para vê-la) é a frase completa que ficou popular no final do século XVIII, quando o rei Carlos III investiu em melhorias e no embelezamento da cidade e que significa que mesmo morto precisaria de um "buraquinho" no céu para continuar vendo e desfrutando da Vila e Corte. Embora tem gente que afirma que a frase foi dita pela beata Maria Ana de Jesús, o certo é que o mais provável é que o autor fosse o entremesista Luis Quiñones de Benavente na obra "Baile del invierno y el verano" (Baile de inverno e o verão), cujo quarto verso diz:
 "Pues el invierno y verano/En Madrid sólo son buenos/Desde la cuna a Madrid/Y desde Madrid al cielo"
 (Pois o inverno e o verão/Em Madri só são bons/Do berço a Madri/E de Madri ao céu)


Um dos lugares mais emblematicos da capital espanhola é a Plaza Mayor (Praça Maior) que está no centro da cidade, perto da "Puerta del Sol" (Porta do Sol) e "Plaza de la Villa" (Praça da Vila). Desde que cheguei aqui, sempre morei a um quilômetro desse lugar que eu adoro. Costumo dizer em forma de brincadeira que é o quintal da minha casa.
É uma praça retangular, rodeada de todos os lados de edifícios de três andares, sendo a sua entrada apenas possível através dos nove pórticos. Tem 129 metros de comprimento e 94 de largura. Existem ao todo 237 varandas ao longo de toda a praça.
Tive a oportunidade de trabalhar alguns dias em um dos restaurantes ubicados no local. Assim pude comprovar a diversidade de gente que visita Madri, não somente estrangeiros, mas também espanhóis procedentes de várias partes do país. Apreciava o deslumbre dos visitantes. Aos domingos, os colecionadores de selos negociam em suas barracas e durante todos os dias do ano, vários artistas expõem suas pinturas, fazem caricaturas, tocam música, cantam, interpretam, dançam, etc. Há também os que fazem estátuas vivas. Inclusive há um casal de brasileiros, conhecidos como "pareja de barro" (casal de barro) que sempre estão por lá.

                                        A história da Praça Maior

A Plaza Mayor é o maior símbolo de Madrid de los Austrias. Inicialmente era a Plaza del Arrabal, que  estava fora das muralhas medievais, onde se comercializavam todo tipo de produtos de forma irregular.
Em 1561, as cortes foram transferidas para Madri e Filipe II a partir de 1580 começou a transformação do lugar com obras que não foram finalizadas até 1619, quando já estava Filipe III. A ideia era remodelar o local e regularizar o comércio.
A Casa de la Panaderia, o primeiro edifício, construído em 1590  é o único que resistiu aos três incêndios, sendo o mais grave ocorrido em 1790. Até então todos edifícios tinham cinco andares.
Em 1848 foi colocada a estátua equestre de Filipe III no centro da praça.
Ao longo dos séculos, esse local que é visita obrigatória de qualquer turista que vem a Madri, foi palco de inúmeros eventos públicos e históricos. Desde corridas de touros a execuções.
Quando os réus eram condenados a morte por enforcamento, a execução era feita em frente a Casa de la Panaderia; se fosse por faca ou machado, era feita em frente a Casa de la Carniceria; e se fosse no garrote, era em frente ao portal de "pañeros".

                              "Auto-de-fé", obra de Francisco Ricci (1683) - uma cena da Inquisição

Também foi usada pela Igreja na época da Inquisição para realizar " Autos-de-fé", onde mandava os hereges para a forca ou fogueira. Um desses eventos foi imortalizado pelo pintor Francisco Ricci com sua obra mais significativa "Auto de fe" (1683), que se encontra atualmente no Museu do Prado.
No mesmo lugar onde a Santa Igreja condenava à morte, também transformava gente em santo. O padroeiro da cidade de Madri, São Isidro, foi canonizado neste local em 1622.
Durante as festas do padroeiro madrileno que acontecem no dia 15 de maio, a Plaza Mayor é cenário para shows. Ao longo do ano também alberga alguns festivais e feiras, sendo a mais importante a que acontece no final do ano, por conta das festas natalinas.



                             Plaza Mayor na época da guerra civil (1936-1939), protegida por saco de areias

                 Pórtico visto da calle Toledo, cuja imagem foi usada para a capa do meu livro "O Teatro dos Anjos"


                                                   Eu e minha amiga Telma Mallet