“O meu sonho na vida era ter o poder de ser um videocassete de mim mesmo. Ter o controle remoto que me permitisse renascer experiências vividas. Eu poderia voltar no tempo, acelerar, pular cenas dos próximos capítulos. Parar a imagem num momento que me tivesse sido glorioso, vivê-lo outra vez. Talvez, eternizar um orgasmo.
Eu poderia correr a fita de modo a entrar na percepção do futuro ou recuar para consertar, corrigir, para confirmar. Ah, com esse aparelhinho eu poderia criar o ideal.
Ah, o ideal.
O ideal seria que o homem nascesse com 80 anos, fosse ficando mais moço, mais moço, até morrer de infância. Nascendo com 80 anos, aos 60 ele casaria com uma mulher de 59. Mas com uma vantagem: A cada dia, a cada semana, a cada mês, a cada ano, ela ia ficando mais nova, mais nova, até se transformar numa gata de 20.
Depois ficariam noivos, namorados.
A bicicleta.
O velocípede.
Desaprendiam a andar, esqueciam como engatinhar,
O voador, o cercadinho.
Do cercadinho para o berço.
As fraldas molhadas.
O peito da mãe.
Até que, num dia qualquer, pararia de respirar.
Seria o tempo correndo para trás até aparecer o último homem: Adão.
O último primeiro, a quem Deus colocaria sobre a mão e, em vez de soprar para ele,
inspiraria o homem outra vez para dentro de sí mesmo.”
Lembro que minha mãe não gostava muito dele e que não gostava de assistir os seus programas. Mas eu adorava. Achava incrível que a mesma pessoa fosse capaz de interpretar tantas personagens... na minha cabeça eram atores diferentes e duvidava da realidade. Chico Anysio é referência do nosso humor e um dos maiores nomes do cenário artístico do Brasil. A ironia e inteligência são características inerentes ao seu trabalho. Gênios como ele se perpetuam para a história, não morrem nunca.
Emocionante! Chico Anysio, por ele mesmo.
Um comentário:
Escrevi esse post na madrugada de hoje e, infelizmente, 18 horas depois, faleceu o gênio Chico Anysio!
Querido Chico, que descanse em paz!
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