quarta-feira, 10 de abril de 2013

Daniela Mercury, o sol da liberdade


Assim como a maioria dos mortais, Daniela Mercury também não gosta de rótulos. Quando alguém sugere ou afirma isso em alguma frase, parte da militância GLBT torce o nariz. Mas acredito que até mesmo para os mais bravos, o ideal seria se realmente não precisássemos deles ou se não vivêssemos expostos a tantos. Mas ainda não aprendemos a nos entender de outra forma.
Em uma sociedade insana que insiste em fechar os olhos para os que estão fora do  padrão estabelecido e só aponta o dedo no intuito de inferiorizar, quem reivindica respeito acaba ganhando mais estigmas. É um ato cruel que acaba gerando outros tipos de violência, inclusive ceifa vidas.
Mesmo rechaçando etiquetas, afinal, somos um conjunto de características que vive em constante mutação, Daniela entende que assumir rótulos é importante para descaracterizar o pejorativismo que vem neles. Já ouvi muitos gays carregados de homofobia internalizada questionando a necessidade da expressão "orgulho gay". Assim como muitos não compreendem e recriminam os negros que levam camisas estampando "100% negro". É para dizer que sim, sou gay e daí? Sim, sou negro e daí?
Daniela Mercury não será a cantora lésbica e tampouco a que assumiu publicamente a relação com outra mulher em um contexto crucial do debate social sobre os direitos de igualdade e respeito no Brasil. Continuará sendo a artista que sempre esteve preocupada pelas lutas sociais, vivendo a sua arte com muita dignidade e levando alegria para o seu público dentro e fora do país.
A atitude de se posicionar em primeira pessoa não é fácil quando o assunto gera tantos conflitos, principalmente quando se é uma pessoa pública. É mais fácil defender ideias e se posicionar à margem da situação, saindo na tempestade com guarda-chuva. Daniela leva com ela o sol da liberdade e não precisa dessa proteção. Sai com os braços abertos e mãos livres. Leva com ela o sol da dignidade humana. O sol que só brilha para as pessoas politizadas e lúcidas.  O sol que leva os que se preocupam com o outro.
Não é de tolerância que o mundo precisa. Como sempre digo, essa palavra sinaliza diferença de patamares. O superior tolera o inferior. Precisamos simplesmente de respeito.
O ato dela assumir uma relação homossexual publicamente é um passo importante. É balsámo para os que estamos cansados de tantas estupidezes. Contribui para que a parcela da sociedade bem intencionada possa enxergar com naturalidade algo que faz parte da condição humana. Se relacionar afetivamente ou sexualmente com outra pessoa do mesmo sexo é também uma expressão espontânea do ser humano e mesmo que se tratasse de escolha, ainda assim não seria menos respeitável.
Entre Felicianos, Joelmas e Cláudias Leite, temos ainda a sorte de ter Daniela Mercury. É uma pequena luz no meio de tanta escuridão.


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