O vírus da imunodeficiência humana ataca o sistema imunológico, responsável por proteger o organismo de enfermidades. Assim como muitos outros vírus, ataca de forma invisível e só é percebido quando as suas cópias estão bem multiplicadas e é onde fica mais difícil de ser combatido.
Faço essa analogia ao deputado Marco Feliciano sem receio de ser mal interpretado e talvez também para chamar a atenção especificamente para uma doença que deixou de ser letal e passou a ser crônica, mas que nem por isso, deixou de ser um problema de saúde pública. Em países como o Brasil, o maior efeito colateral para os soropositivos é o estigma social (mas não quero aqui subestimar os outros possíveis danos).
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Associar a AIDS aos homossexuais em pleno século XXI, com a quantidade de informações que se tem sobre a doença, em um país onde o índice de analfabetismo funcional é elevado, é um verdadeiro desserviço. É perpetuar a ignorância e criar nas pessoas heterossexuais a falsa ilusão de que eles estão imunes.
Assisti a entrevista que esse político ordinário concedeu ao apresentador, também ordinário, Danilo Gentili, no programa "Agora é Tarde", na Band. Bem articulado, agradecido pela exposição obtida através de sua insórdida presidência em uma CDHM que ele diz que nunca fora tão expressiva como agora. (Não oculto minha indignação sobre as manobras políticas que conduziram esse homem a esse lugar). Em suas respostas foi fácil perceber seu alto teor de vaidade e egocentrismo. (Não me conformo perceber isso em pessoas que se dizem espiritualizadas). De fala mansa, transgiversando algumas perguntas, conseguiu até o merecido reconhecimento de Caetano Veloso, quando mencionou o problema da contaminação pelo chumbo (totalmente desconhecido para todos nós e negligenciado pelas autoridades competentes, isso é um fato) de uma parte da população da terra natal da família Canô.
O pastor" pop" pode até tentar descontextualizar as suas falas que expressam o preconceito e discriminação contra as mulheres, homossexuais, negros e pessoas que não são clientes dele. A questão aqui é tão complexa que existem inúmeros pontos que causam perplexidade naqueles que ainda acreditamos no desenvolvimento social do Brasil.
Ele pode se respaldar no direito de liberdade de expressão quando opina sobre a homossexualidade, por mais equivocado que esteja e por mais lamentável que seja. O problema é que ele não pode presidir uma comissão que serve como interlocutora entre a população marginalizada e seus representantes, principalmente quando ele fomenta essa marginalização. É colocar a raposa para tomar conta das galinhas.
O que deve ser considerado ainda mais grave é ele associar os homossexuais a crimes como a pedofilia e estupro. Em um país realmente sério, ele estaria preso. (Veja aqui essa notícia)
A nossa constituição tenta ser democrática, mas as falhas que nela existem dão brechas para a reprodução de corruptos em vários escalões. Agora mesmo não me vem na mente um país onde exista tamanha pluralidade de mercadores da fé. É óbvio que isso é um reflexo claro da heterogeneidade brasileira.
Era previsível que algum deles chegaria aos holofotes em um cargo político e isso é muito perigoso. Ele se sente representante de 70 milhões de brasileiros. Fala em nome de todos os evangélicos, fomentando a segregação e guerra. Muitos não estão de acordo com ele. E esse suposto farto rebanho não é exclusivamente dele. Há outros pastores como ele que também estão na disputa pela clientela. Mas também estão os que se preocupam realmente em aproximar as pessoas com a espiritualidade e negar isso é se igualar a esses canalhas.
Já de cara para as eleições presidenciais, Marco Feliciano, parafraseando Rita Lee, é "o HIV que você não vê". Mas assim como a AIDS, ele só não será letal se médicos e pacientes não cuidarem. E esse diagnóstico não se limita exclusivamente à pessoa dele, mas sim, aos que almejam a mesma coisa: fragilizar ainda mais o secularismo brasileiro. E isso sim será uma ditadura.
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