Há exatamente um ano, estava no Brasil,
apresentando o livro “O Teatro dos Anjos”. Foi durante a minha estância na
minha pátria querida e idolatrada, que escutei finalmente o primeiro disco de
Maria Gadú, através do meu amigo Eluane.
Mesmo morando em outro país, sempre estou
antenado à atualidade brasileira, e como bom amante da música que sou, já sabia
sua história e havia ouvido algumas canções através do You Tube.
Gadú surpreende. Seu aspecto físico revela
certa rebeldia. Quando a vi pela
primeira vez, pensei que seu estilo fosse agressivo. Quando a escutei, veio a
surpresa. A doçura de sua voz nos convida a momentos mais singelos. É calmo
ouví-la. A beleza de sua voz é embriagadora.
Mas a sensibilidade dessa moça se equipara
à grandeza de sua voz. Quando descobri que o disco era totalmente autoral, foi
inevitável não admirá-la de forma imediata. Principalmente quando ouvi “Dona
Cila”, composta pela cantora quando ainda era uma adolescente. Apesar da pouca
idade, a letra dessa música demonstra a maturidade emocional que ela possui.
Lidar com a morte das pessoas que amamos não é fácil. Ela soube transformar sua
dor em pura poesia, característica intrínseca dos grandes artistas.
Essa canção feita para a avó, um mês antes
de seu falecimento, tocou fundo a minha alma. Uma linda homenagem para a mulher
que a inspirou a cantar e, que também era cantora, lírica, mas que infelizmente
perdeu a voz pela ingestão de um produto químico. Ficou a frustração de não realizar
alguns sonhos, entre eles, cantar em um teatro municipal e desfilar no
Sambódromo da Marquês de Sapucaí, como baiana. Desejos que são cumpridos no
clipe da música, onde a atriz Neusa Borges interpreta a protagonista da
história: Dona Cila.
A impossibilidade da realização dos sonhos,
que sempre são próprios, acaba causando uma grande insatisfação em todos nós.
Conviver com essa frustração é um grande exercício para nossa própria evolução
e equilíbrio. Nem sempre conseguimos o que queremos. Mas a vida em si é muito mais
ampla do que qualquer desejo. Ganhamos e perdemos constantemente. Acredito que dona
Cila deve estar bem orgulhosa de ver que sua neta, Maria Gadú, entrou no rol
dos grandes artistas da nossa música popular brasileira. Cada indíviduo é único
e exclusivo, mas o amor é o elo que faz com que sejamos a extensão das pessoas
que amamos.
Dedico essa canção à minha saudosa avó
Madalena... “Oh meu pai do céu/limpe tudo aí/vai chegar a rainha/precisando
dormir...”
Um comentário:
Lindas palavras meu caro, que satisfação eu tenho em vê-lo escrever tão lindamente e transmitindo tantos pensamentos que também são meus, gosto especialmente destes posts e do livro maravilhoso que escreveu, tenho muita felicidade ao lembrar de nossos passeios noturnos nas praias de Guarujá e de nossas conversas, que bom ter feito parte da vida de uma pessoa tão sensível.
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