Quem Poderá Calcular a Órbita da sua Própria Alma?
As pessoas cujo
desejo é unicamente a auto-realização, nunca sabem para onde se dirigem.
Não podem saber. Numa das acepções da palavra, é obviamente necessário,
como o oráculo grego afirmava, conhecermo-nos a nós próprios. É a
primeira realização do conhecimento. Mas reconhecer que a alma de um
homem é incognoscível é a maior proeza da sabedoria. O derradeiro
mistério somos nós próprios. Depois de termos pesado o Sol e medido os
passos da Lua e delineado minuciosamente os sete céus, estrela a
estrela, restamos ainda nós próprios. Quem poderá calcular a órbita da
sua própria alma?
Não Tenhas Medo do Passado
Não tenhas medo do
passado. Se as pessoas te disserem que ele é irrevogável, não acredites
nelas. O passado, o presente e o futuro não são mais do que um momento
na perspectiva de Deus, a perspectiva na qual deveríamos tentar viver. O
tempo e o espaço, a sucessão e a extensão, são meras condições
acidentais do pensamento. A imaginação pode transcendê-las, e mais, numa
esfera livre de existências ideais. Também as coisas são na sua
essência aquilo em que decidimos torná-las. Uma coisa é segundo o modo
como olhamos para ela.
A Imoralidade da Moral
A discórdia é
sermos obrigados a estar em harmonia com os outros. A nossa própria vida
é o que há de mais importante. Agora, se quisermos ser pedantes ou
puritanos, podemos tecer as nossas considerações morais sobre a vida dos
outros, mas estas não nos dizem respeito. Para além disso, o
individualismo é realmente o mais elevado dos ideais. A moralidade
moderna consiste na aceitação dos modelos da nossa época. Julgo que
aceitar o modelo da nossa época será, para qualquer homem culto, a mais
crassa das imorallidades.
A Beleza da Tragédia
É frequente
desencadearem-se as verdadeiras tragédias da vida de uma maneira tão
pouco artística que nos magoam com a sua crua violência, a sua tremenda
incoerência, carecendo absolutamente de sentido, sem o mínimo estilo.
Afectam-nos do mesmo modo que a vulgaridade. Causam-nos uma impressão de
pura força bruta contra a qual nos revoltamos. Por vezes, porém,
cruzamo-nos nas nossas vidas com uma tragédia repassada de elementos de
beleza artística. Se esses elementos estéticos são autênticos, todo o
episódio apela à nossa apreciação do efeito dramático. De repente
deixamos de ser actores e passamos a espectadores da peça. Ou antes,
somos ambas as coisas. Observamo-nos, e todo o encanto do espectáculo
nos arrebata.
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