sexta-feira, 6 de abril de 2012

Plante seu pé de maconha

A legalização da maconha permitiria taxar sua venda e com isso o tráfico, maior responsável pela criminalidade no país, cairia consideravelmente. Mesmo com imposto alto, o preço seria mais barato e quebraria o comércio ilegal. Não existem números expressivos de crimes consequentes pelo contrabando de álcool e tabaco, essa prática é quase nula, pois economicamente não vale a pena. No ranking de nocividade à saúde, essas duas drogas legais ocupam o primeiro e o sexto lugar, respectivamente, e a maconha fica em oitavo, de acordo com o Comitê Científico Independente para Drogas do Reino Unido.
A lei seca que proibia o consumo de bebidas alcóolicas nos Estados Unidos, nos anos vinte do século passado, teve como consequência o aumento de poder dos mafiosos, o legendário Al Capone surgiu nessa época. Treze anos depois, em 1933,  essa emenda constitucional foi abolida e a violência nas ruas foi acabando de forma paulatina.
Independente de valores morais, tento enxergar essa questão de forma pragmática. O que o mundo está constatando é que a guerra declarada às drogas não tem funcionado em nenhum lugar. Os verdadeiros traficantes permanecem livres, são milhonários e nunca vão presos. Existe todo um sistema de corrupção que envolve a classe política e o judiciário. Os que superlotam as cadeias e os cemitérios são os mais fracos, conhecidos vulgarmente como "mulas". O número de presidiários por crimes não violentos relacionados às drogas é alto. Cada preso custa uma média mensal de 1.300 reais ao Estado. Cerca de 80%  acaba reincidindo, quando voltam às ruas. Na realidade o sistema carcerário brasileiro é uma verdadeira universidade do crime.


Em alguns países onde os usuários de drogas deixaram de ser criminosos e passaram a ser considerados doentes, a violência também diminuiu e o consumo também. Do ponto de vista econômico e social é mais vantajoso entender a dependência de narcóticos como uma patologia do que como um crime.
A maconha é a droga ilegal mais consumida no Brasil, torná-la legal poderia ser uma via para o Estado garantir impostos e com eles tratar aos dependentes. Abalaria o poder econômico dos traficantes e consequentemente haveriam menos armas em circulação e menos vítimas colaterais.
O governo deveria abandonar a punição aos drogados. Deveria investir mais em prevenção e tratamento. Se o sujeito decide usar droga, que seja respeitado o seu direito individual. Que não dê dinheiro ao traficante, ampliando seu poder de fogo, gerando mais violência nas ruas. A maior causa da violência no Brasil é a droga, não ela em si, mas sim o tráfico dela. Com a legalização, se o sujeito decidir usar drogas, que seja ele que pague as consequências e não os demais.
Pesquisas revelam que o número de fumantes no país vem decrescendo a cada ano. A tendência de queda no consumo de tabagismo é devido, fundamentalmente, à contra-propaganda ao hábito de fumar e também as restrições em vários lugares.
O nosso país é complexo e esse assunto gera muita polêmica. Obter dados de países europeus onde algumas leis vem mudando em relação aos estupefacentes, como referência, seria inútil. A cultura e mentalidade da sociedade europeia são diferentes da brasileira. Tanto o Brasil, como os demais países das Américas, precisam revisar imediatamente se as leis atuais são efetivas no combate às drogas. Essa guerra foi iniciada há décadas, foram gastos trilhões e trilhões de dólares ao longo desses anos, desde a Argentina até os Estados Unidos. Milhões de vidas foram ceifadas por conta da violência que gera o tráfico. É uma guerra perdida.
Não faço apologia a nenhum tipo de droga e tampouco sou usuário de maconha. Apenas observo que a hipocrisia e a dupla moralidade da sociedade são os principais fatores que impedem de encarar esse verdadeiro problema de forma mais objetiva.
Enquanto não houver a legalização, você  que é maconheiro (uso o adjetivo de forma literal sem a intenção pejorativa), plante seu pé de maconha. Utilize sua produção para consumo próprio e deixe de ser cúmplice dos traficantes. Como é um tema difícil até para o próprio governo lidar, faça um boicote ao seu fornecedor. Ele é vítima das circunstâncias e escravo dos grandes senhores.



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