Há alguns dias, assisti uma pequena entrevista de Milton Gonçalves em um programa de televisão. Fiquei fascinado ao redescobrir o motivo da minha admiração por ele. Sem dúvida ele é um desses seres extraordinários que se destaca na sua arte. A sua aura simples e leve fez com que eu demorasse associá-lo com o taciturno Seu Afonso Nascimento, da novela atual das seis, Lado a Lado. E é somente quando isso acontece é que percebemos o talento de um ator. Há muitos medíocres (no sentido literal da palavra e não pejorativo) que muitas vezes nos referimos a eles diretamente pelos nomes próprios e não dos personagens. Com Milton isso não acontece. É impossível por exemplo referir-se a ele como o protagonista de A Rainha Diaba (1974), porque a Diaba é a Diaba e não o Milton. Ele não empresta simplesmente o seu corpo para um personagem, simplesmente interpreta. E faz isso com superioridade e excelência.
Com mais de cinquenta anos de carreira, Milton integra o grupo de grandes atores do nosso país. Ele vem de uma época onde o negro enfrentava mais dificuldades que as atuais. Onde o racismo era mais forte e ceifava de forma explícita e grotesca a igualdade de condições e oportunidades. Por isso, como homem consciente e lúcido que é, o ator sempre aproveitou a sua notoriedade e visibilidade para militar pelo movimento negro no país.
Esse ano completará 80 anos e conserva a jovialidade que somente tem os que vivem fazendo o que realmente gosta. Vivendo a sua vocação e dando os seus tons geniais a cada personagem que interpreta.
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