“...Segue a movida madrileña
Também te mata Barcelona
Napoli, Pino, Pi, Paus, Punks...”
Também te mata Barcelona
Napoli, Pino, Pi, Paus, Punks...”
Na canção “Vaca Profana”, Caetano Veloso
menciona a movida madrileña em uma de suas estrofes e provavelmente, graças a
essa espécie de mosaico cultural em forma de música, é que a maioria dos
brasileiros ouviu falar sobre o assunto por primeira vez.
Na Espanha, os anos sessenta e setenta,
foram vividos todos juntos, nos anos 80. Depois da opressão de uma ditadura de
quase quarenta anos (1939-1975), Madri foi o cenário da grande revolução
cultural que ocorreu naquela época e que logo se espalhou para o resto do país,
em plena fase de transição à democracia. A movida madrileña foi o movimento
punk espanhol.
No dia 09 de fevereiro de 1980, na Escola
de Caminhos da Universidade Politécnica de Madri, vários cantores jovens se
uniram para a realização de um show com a finalidade de homenagear a José
Enrique Cano, o “Canito”, baterista do grupo “Tos” (que logo passou a se chamar
“Los Secretos”), que perdera a vida ao ser atropelado por um carro no reveillón
de 1979. Não eram conscientes de que o evento seria considerado oficialmente,
tempos depois, como o início da “movida”.
Televisionado pela TV estatal espanhola, a apresentação dos grupos
chocou aos que estavam acostumados a um padrão estético mais conservador e os agrediram com a falta de harmonia e qualidade nas canções
apresentadas por músicos inexperientes.
A movida teria acontecido de qualquer
maneira, independente do show daquele dia. Através da música, cinema,
televisão, poesia, fotografia e outras formas de expressões, vários artistas
manifestaram livremente suas ideias e inquietações. Foram seguidos por uma
sociedade que carecia de novidade e criatividade.
O ambiente daquela época era de que tudo
era permitido. A cultura dos bares e discotecas, evidenciou a bohemia e o que
poderia ser considerado extravagante.
Na televisão, o programa “La Edad de Oro”, dirigido
e apresentado por Paloma Chamorro, foi a maior vitrine da movida madrileña e a
jornalista, consequentemente, sua maior musa. Nele, os entrevistados falavam
sobre sua arte sem nenhuma censura. Também declaravam o uso habitual de várias
drogas como estimulantes para a criação. Tudo era possível e divertido.
Pedro Almodóvar foi a maior estrela que surgiu naquela época e
que alcançou projeção internacional e que se mantém até hoje no estrelato. Atuava no teatro e era cantor de rock-punk,
onde se apresentava travestido ao lado de Fábio McNamara. Como diretor, cultuou
o marginal em seus filmes de forma ácida e crítica. Em sua filmografia, não há
nenhum drama sem comédia e nenhuma comédia sem drama. Soube colocar os
holofotes para a realidade do subterrâneo e que para a maioria dos
conservadores e otimistas, era apenas o surrealismo de um jovem desvairado.
A Espanha precisava mudar sua imagem de
careta e reprimida. Necessitva se livrar dos resquícios da mão dura de Franco. Por
isso, toda a transgressão foi respaldada principalmente pela classe política de
esquerda. Queriam mostrar um país democrático, novo e principalmente, moderno.
É difícil sintetizar a importância da
movida. Aqueles anos foram complexos e deixaram de herança uma multipluralidade de tendência e comportamento. É
uma delícia esmiuçar o universo daquela época. No youtube, podemos ver
apresentações de vários grupos musicais, entrevistas, inclusive, os programas
de Paloma Chamorro. Mergulhar no passado recente da Espanha nos ajuda a
entender melhor o seu presente. E constatando a eficiência da teoria de que no
mundo tudo é cíclico, compreendemos a falta atual de grandes novidades por
aqui.
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